Portugal é dos países da União Europeia em que mais jovens admitem estar viciados nas redes sociais: 86% dizem estar viciados neste tipo de plataformas, face à média europeia de 78%. E mais de metade dos pais acredita que as redes sociais têm mais poder para moldar a autoestima e a confiança dos seus filhos do que eles próprios. Estes são os dados de um estudo recente da Dove que deu origem à talk “Scroll infinito e beleza (ir)real: os jovens e a saúde mental” no evento “20 anos de Beleza Real” da Dove. Nos dias 29 e 30 de junho, a marca celebrou duas décadas de promoção da Beleza Real com conversas inspiradoras e testemunhos marcantes.
A cantora e compositora Carolina Deslandes, a influenciadora Clara Não e as psicólogas Filipa Mucha Vieira e Rute Pinto foram quatro das convidadas a subir ao palco do Jardim da Estrela, em Lisboa, para debater o impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens em Portugal. A moderação ficou a cargo da atriz e psicóloga Carla Andrino, que iniciou a sessão destacando que “nove em cada dez jovens portugueses já foram expostos a conteúdos de beleza tóxicos nas redes sociais, incluindo os que incentivam a automutilação”. “É muito, muito preocupante”, refletiu Carla Andrino.
Adolescentes, redes sociais e autoestima
Carolina Deslandes começou por partilhar as suas estratégias pessoais para proteger a família da toxicidade das redes sociais. “Os meus filhos não sabem o que são redes sociais. Sabem o que é o YouTube, mas só podem ver conteúdos musicais. Nenhum deles tem telefone ou iPad”, contou a mãe de três filhos. “Eu acredito que as redes sociais ganharam uma proporção astronómica no que diz respeito ao ódio, ao bullying e ao body shaming quando foram legitimadas pelos media”, afirmou Carolina Deslandes. “O espaço digital também tem de ter leis”, concluiu a cantora e compositora.
Em tom de desabafo, Carolina Deslandes ainda abordou as suas próprias batalhas contra distúrbios alimentares e a pressão para corresponder a expectativas irreais: “As minhas canções, principalmente nos últimos anos, acabaram também por abordar temas da minha vida. Distúrbios alimentares, o ódio online e a solidão profunda que sentimos sempre que não estamos a corresponder a uma expectativa. Eu falo disto muitas vezes nos meus concertos, porque foi um caminho muito longo para mim”, acrescentou a cantora à frente de uma audiência repleta de fãs.
A pressão para atingir a “perfeição” é tão intensa que duas em cada dez raparigas até aos 18 anos estariam dispostas a sacrificar até cinco anos de vida para alcançar o corpo ou aparência ideal. Por consequência, esta insatisfação com a aparência tem levado a comportamentos alimentares negativos. “As alterações ao comportamento alimentar são as consequências mais comuns e perigosas”, confirmou Rute Pinto. “Mas antes disso, há sinais menos visíveis, como o isolamento e os desabafos negativos sobre si mesmos”, alertou a psicóloga com um percurso profissional focado em contextos educativos.
“Eu acredito mesmo vivamente que se chegasse um dia em que vocês conseguissem, entre aspas, arranjar tudo o que acham que está mal em vocês, iam descobrir sempre mais alguma coisa. Nunca ia parar. Nunca. Hoje em dia, uma das maiores revoluções que podemos fazer é gostar do nosso corpo”, constatou Clara Não. No meio do scroll infinito, a influenciadora sublinhou a importância de promover a saúde mental dos jovens através de livros de autocuidado e a curadoria dos feeds das redes sociais. “Devemos deixar de seguir pessoas que nos fazem sentir mal, ao invés de nos fazer sentir bem”, recomendou a criativa conhecida pela sua irreverência e ironia.