Um casal de académicos sonhou, mudou de vida e criou uma adega urbana: a primeira urban winery em Portugal.
Em pleno coração de Lisboa, a Adega Belém instalou-se num espaço onde, outrora, existia uma oficina de automóveis. Pioneira no conceito, esta urban winery resultou de um sonho de mudança de vida de um casal, que estudou e projetou uma adega na capital. E as uvas? Estão mesmo ali ao pé, na Tapada da Ajuda.
É neste pequeno espaço, cuja decoração prima pela originalidade, com loja e sala de provas, que embarcamos numa história de sucesso, na companhia da All Aboard Family.
As uvas chegam à adega vindas da Tapada da Ajuda, ali a dois quilómetros. “São cinco minutos na nossa carrinha: vinhas urbanas, para a adega urbana.”
Ao desbravar a possibilidade de novas licenciaturas ou mestrados, viram Viticultura. “Logo pensámos: isto pode ser uma opção”, contam. Falaram com os professores do Instituto de Agronomia, e a resposta foi clara: “Há sempre pessoas mais velhas (risos) a entrar lá e a começar uma segunda vida.” Assim fizeram.
No início, recorda Catarina, procuraram “algo mais tradicional, uma vinha e adega”. Mas acabaram por encontrar o formato certo na África do Sul.
As uvas chegam à adega vindas da Tapada da Ajuda, ali a dois quilómetros. “No Instituto Superior de Agronomia, têm vinhas para ensinar aos alunos – onde também aprendemos – e para projetos. Nós vamos lá apanhar à mão as uvas brancas”, descreve a agora enóloga, Catarina. “São cinco minutos na nossa carrinha: vinhas urbanas, para a adega urbana.” Também compram uvas à Quinta da Ribeira de Caparide, DOC Carcavelos.
Para produzir os vinhos, o casal adota uma abordagem de intervenção mínima, baseada na preservação da diversidade de leveduras na vinha. “Fazemos ao vinho apenas aquilo que achamos que é necessário”, explica David. “Cada vinho é feito à mão a partir de uvas saudáveis e deliciosas, usando conhecimento científico, artesanato sofisticado e também um pouco de aleatoriedade natural, para crescer numa personalidade forte e distinta. Um produto único que reflete, ao mesmo tempo, o caráter varietal de fruta das nossas uvas, as condições ecológicas de cada vinhedo e ano de safra e o amor que nos leva a fazer o que fazemos.”
Entre as castas utilizadas contam-se Arinto, Moscatel Graúdo, Touriga Nacional, Antão Vaz, Alicante Bouschet, Castelão, Aragonez, Tinta Barroca. Produzem tintos, brancos, rosés e espumantes, num total de quinze vinhos diferentes, distribuídos na União Europeia e nos Estados Unidos.
Há uma particularidade importante nesta casa, salienta David: “Esta é uma adega familiar.” O casal de enólogos tem duas filhas pequenas “que fazem parte da adega”. Muitos dos rótulos dos vinhos são desenhos das crianças. “Fazemos questão que elas se sintam parte da adega. Estamos lá todos juntos.”
A Adega Belém é sinónimo de vinhos de excelência e muito mais. É um espaço aberto a visitas que também aposta em inúmeros eventos que não só dão a conhecer o projeto e os vinhos, como ensinam, de forma descontraída, os segredos sobre o mundo da enologia. Aqui pode encontrar um quiz vínico, noites de poesia, entre outras iniciativas. É possível, sob marcação, fazer uma visita à adega ou reservar uma aula de provas de vinhos.
A Alma dos Vinhos da Adega Belém: “Eu costumo dizer: somos nós”, afirma Catarina. Visivelmente emocionada, a enóloga descreve que “os vinhos são os nossos vinhos. Não temos um estilo, fazemos vinhos que nos dão gozo”. E David acrescenta: “o que eu acho que é importante é que, em cada sequência da produção, fazemos o vinho com amor. Cada detalhe é importante, desde o tratamento da uva, da recolha, do design, até à prova. Até como vos receber”. E termina com a frase que lhes é característica: “Vinho feito com amor, e uvas também”.
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