Para promover a inovação e a criatividade dentro das organizações é necessário ter equipas capazes de propor várias soluções. É por este motivo que a diversidade, a equidade e a inclusão (DEI) ganham mais relevância em entidades que se querem manter competitivas no mercado. Um ambiente de trabalho mais inclusivo e diverso promove a inovação, a criatividade e melhora o desempenho e a produtividade. Como não se pode gerir o que não se pode medir, a startup irlandesa inclusio, desenvolveu uma plataforma cloud projetada para medir e promover a cultura de cada organização. Trata-se de uma plataforma de diversidade e inclusão orientada por dados e fundamentada na ciência, que aplica uma abordagem baseada em evidências científicas para medir a cultura, diversidade, equidade e inclusão nas empresas.
Esta plataforma foi criada para auxiliar as organizações a compreender as suas equipas e a construir culturas laborais nas quais todos se sentem valorizados, respeitados e reconhecidos. Esse trabalho é feito através da combinação de tecnologia, ciência comportamental e inteligência artificial, e permite que os colaboradores construam o seu perfil de diversidade de uma forma confidencial. Esses dados permitem que as organizações valorizem a diversidade dos seus colaboradores e que promovam políticas mais inclusivas, que valorizem e respeitem as diferenças. Falámos com Sandra Healy, CEO da inclusio, para entender melhor o que faz este serviço baseado na cloud e a importância de terem vencido a categoria “Startup” do Altice International Innovation Award (AIIA) da edição anterior.
O que inspirou a criação da inclusio? Houve uma necessidade específica ou uma lacuna no mercado que tinham como objetivo abordar?
Passei 20 anos na indústria global das telecomunicações, onde liderei a diversidade e inclusão em várias empresas. Enquanto estudava o meu mestrado em Psicologia Organizacional, percebi que existe uma forma de utilizar a tecnologia, a ciência e a inteligência artificial para enfrentar um dos maiores desafios que os empregadores globais enfrentam hoje em dia; como medir a diversidade e o impacto da cultura e dos esforços de inclusão e relacionar as métricas com os indicadores-chave de desempenho (KPI) empresariais.
Assim, em 2016, juntei-me à Dublin City University (DCU) como responsável da área de DEI e apresentei a ideia da inclusio à universidade. Um dos maiores desafios que enfrentei na altura foi a perceção de que ‘diversidade e igualdade são coisas agradáveis de ter’, não uma urgência empresarial. Felizmente, consegui convencer a Enterprise Ireland a apoiar a ideia e a financiar-nos através do fundo de comercialização.
Assegurámos o financiamento de comercialização da Enterprise Ireland e, ao longo de quatro anos de investigação e desenvolvimento, construímos, testámos, desenhámos e investigámos. A inclusio tornou-se independente da Dublin City University DCU em dezembro de 2020.
O objetivo da inclusio é promover a inclusão e a diversidade. Como é que a plataforma alcança este objetivo?
Descrevemos a inclusio como uma plataforma de inteligência artificial ética. Propusemo-nos a adotar uma abordagem científica baseada em evidências para medir a cultura, diversidade, equidade e inclusão nas empresas. Utilizamos um modelo científico de inclusão de cinco pontos, o mais abrangente do seu género. Os dados DEI são captados através da “Nudge” da ciência comportamental e pela voz das pessoas no local de trabalho, onde os colaboradores partilham as suas experiências da cultura a nível de equipa e organização.
Poderia explicar algumas das principais funcionalidades da inclusio?
Levamos as empresas de terem poucos ou nenhuns dados DEI para terem uma riqueza de dados em menos de um mês após a implementação. Recolhemos mais de 100 pontos de dados demográficos, utilizando mais de 400 métricas de inclusão e cultura no trabalho, apresentadas na forma de um painel de análise. Estes insights ajudam os decisores a compreender a riqueza da diversidade que têm na organização e onde têm lacunas. O quadro científico de cultura ajuda os líderes a entender as forças e fraquezas da cultura e onde precisam concentrar os seus esforços, ligando as ações aos KPIs empresariais. Fornecemos formação DEI para transformar a cultura usando a “Nudge” da ciência comportamental.
Como envolvem e capacitam os utilizadores para contribuírem para a promoção da inclusão?
Propusemo-nos criar uma aplicação que as pessoas adoram usar e que se parece e sinta como o software que usariam no seu dia-a-dia. É simples. É envolvente. São apenas 3 a 5 minutos por dia e baseia-se na “nudge” da ciência comportamental. As pessoas podem construir o seu perfil de diversidade de forma confidencial e partilhar a experiência de trabalhar nas suas equipas e na ligação à organização. Também participam na aprendizagem DEI através de “nudges”, usando artigos e vídeos para os ajudar a entender como é a experiência de pessoas diferentes.
Operam num mercado competitivo, com várias outras aplicações e plataformas focadas na diversidade e inclusão. O que distingue a inclusio dos seus concorrentes?
O software da inclusio ajuda os colaboradores, dando-lhes voz no trabalho. As respostas permanecem confidenciais, e os empregadores, proporcionam uma forma de medir tanto a diversidade como a inclusão, podendo agir com base no feedback recebido dos colaboradores para melhorar o ambiente de trabalho. Descrevemos o que fazemos como trazer uma abordagem científica baseada em evidências para medir, acompanhar e agir sobre a cultura, diversidade e inclusão no trabalho.
Até agora, os dados recolhidos revelaram alguns factos interessantes. Por exemplo, consistentemente, sete por cento das equipas de trabalho são compostas por pessoas LGBT+ e a inclusio ainda não encontrou uma organização com relatos de menos de 12 por cento de pessoas neurodivergentes.
Quais são os planos e objetivos futuros? Existem novas funcionalidades ou iniciativas em desenvolvimento?
A inclusio será o padrão global para a diversidade e a inclusão no trabalho. A nossa ambição é ajudar todos os locais de trabalho no mundo a serem espaços onde as pessoas possam ser elas próprias, nivelando o campo de atuação para todos os colaboradores, garantindo que tenham voz no trabalho.
Pretendemos contribuir e informar a Estratégia Digital da UE; ajudaremos a moldar o futuro digital da Europa, garantindo que a inteligência artificial é desenvolvida respeitando os direitos das pessoas e conquistando a sua confiança.
Através de colaborações académicas, iremos avançar no campo da psicologia organizacional e da investigação cultural. Iremos capacitar e apoiar empresas globais e PME na adoção de boas práticas de diversidade e inclusão no trabalho.
Que desafios enfrentaram ao dirigir e expandir a inclusio?
Penso que tornar-se independente durante a pandemia (em dezembro de 2020, saindo da DCU) e ter de angariar investimento foi um grande desafio. Financiámos o negócio por 10 meses enquanto angariávamos capital, o que foi bastante desafiante, já que não podíamos reunir-nos fisicamente com as pessoas, por isso tivemos de levantar a nossa ronda de pré-financiamento online.
Como priorizam a privacidade e segurança dos dados dos utilizadores?
Temos as melhores práticas em Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) e privacidade de dados integradas na plataforma. A confidencialidade dos colaboradores é a nossa principal prioridade. Através do motor de inteligência artificial ética, agregamos os dados para garantir que nenhum indivíduo seja identificável de forma alguma.
Existem planos para expandir a sua presença para novas regiões ou países?
Os mercados em que estamos focados agora são a Irlanda, o Reino Unido e o Canadá, e nos próximos 12 meses lançaremos em outras regiões. Internacionalizaremos a plataforma para que seja traduzida e localizada para diferentes mercados e idiomas.
Ficámos surpreendidos e encantados por sermos reconhecidos pelo nosso trabalho e por ganhar um prémio tão competitivo e prestigioso como o AIIA.
Sandra Healy, CEO da inclusio
Como decidiram concorrer ao prémio Altice Innovation Startup?
Fomos informados pela Enterprise Ireland e sabíamos que era muito competitivo, no entanto, gostámos da transparência do processo de seleção e achámos que seria bom apresentar a inclusio e o nosso impacto, especificamente relacionado com a neurodiversidade, incapacidade e experiência com acomodação no local de trabalho.
Que visibilidade trouxe o prémio à inclusio?
A Altice é uma organização global e estamos a trabalhar ativamente com as equipas locais para testar e estabelecer alianças.
Quais são as razões pelas quais as startups e os empreendedores devem candidatar-se ao Prémio Altice Startup?
O Prémio Altice Startup é um prémio com muito prestígio, e foi um ótimo reconhecimento pelo trabalho que a inclusio faz na construção de ambientes de trabalho equitativos para todos.
Que conselhos dariam aos concorrentes?
Sejam autênticos para serem diferentes – destaquem-se com a vossa personalidade única e a história da vossa empresa. Apresentem o que a vossa empresa faz com a paixão e o orgulho das vossas pessoas para demonstrar o que alcançaram e, mais importante, o valor que trazem aos vossos clientes.