Andrew Revkin e Butch Bacani são membros do Conselho Consultivo do Impact Center for Climate Change da Fidelidade. Nas Climate Change Talks, o ex-jornalista do The New York Times e o responsável pela área seguradora no Programa Ambiental da ONU, alertam que a Humanidade tem de se adaptar às alterações climáticas.
As alterações climáticas estão em curso, e enquanto as atenções do mundo se concentram no ataque às suas causas, estão a ser descurados os esforços de adaptação aos seus impactos, que se vão continuar a fazer sentir. Para Andrew Revkin, ex-jornalista ambiental do New York Times, e Butch Bacani, diretor da área seguradora do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), membros do Conselho Consultivo do Impact Center for Climate Change (ICCC) da Fidelidade, há que trabalhar mais na redução dos riscos das alterações climáticas. Uma tarefa em que a indústria seguradora deve ter um papel importante, e que foi o tema de mais uma das Climate Change Talks da Fidelidade.
“Quando comecei a escrever sobre temas ambientais, em meados dos anos 1980, as histórias eram bastante mais simples e incidiam apenas sobre a poluição atmosférica causada pelo Homem”, relembra Andrew Revkin, ex-jornalista do The New York Times que durante 40 anos escreveu artigos, alguns premiados, sobre o clima.
”Gradualmente, as histórias sobre temas ambientais foram ficando cada vez mais complexas, com muito mais implicações ao nível da política, da tecnologia, da economia, e da sociedade. Passaram a ser histórias sobre nós, sobre o nosso impacto no clima”, conta o ex-jornalista, que continua ativo como autor, consultor e comunicador nestas áreas.
Para Andrew, as alterações climáticas são uma história sobre a forma como a Humanidade se relaciona com o clima: “Temos agora uma relação biunívoca com o clima. Durante a maior parte da História, o clima fazia-nos coisas. E agora nós também fazemos coisas ao clima. E a gestão desta interação está a ser cada vez mais desafiante”, afirma.
Para Andrew Revkin, fazer parte do Conselho Consultivo do ICCC, recentemente lançado pela seguradora Fidelidade, é uma tarefa particularmente estimulante: “O que acho interessante em centros como este é que a indústria seguradora foi construída à volta da gestão do risco e não da gestão da mudança. E o risco climático não é apenas uma função das tempestades e das inundações, mas é também uma função de como vivemos e onde vivemos”, nota o ex-jornalista. Já não há como impedir o inevitável, por isso o importante é adaptarmo-nos. “Mesmo que amanhã desligássemos as luzes, parássemos as fábricas e deixássemos de emitir gases, isso não acabaria com os furacões e com os fenómenos climáticos extremos. Por isso, nós temos de dedicar mais atenção e recursos a como podemos reduzir os riscos climáticos, para além de continuar a trabalhar para desacelerar as mudanças climáticas”, defende Andrew Revkin.
Para o ex-jornalista, há uma meta mais urgente agora do que atingir a descarbonização. “Parar o aquecimento global é extremamente importante, mas vamos demorar décadas a construir uma economia verdadeiramente carbono zero. E, entretanto, temos de dedicar recursos a reduzir as nossas vulnerabilidades face aos fenómenos climáticos”, sublinha.
Neste contexto, “a indústria seguradora terá um papel importante na tomada de medidas para mitigar os riscos das alterações climáticas. Por exemplo, encorajando a prevenção de cheias, um melhor ordenamento do território, melhor construção, e mais atenção à prevenção de doenças”, sublinha Butch Bacani, outro membro do Conselho Consultivo do ICCC, líder do programa para os “Princípios das Nações Unidas para os Seguros Sustentáveis”.
“Temos de pensar na ação climática como parte de uma agenda mais ampla para a sustentabilidade, incluindo ações para mitigar as alterações climáticas, lidando com as suas causas, mas também de adaptação”, explica.
Para Butch Bacani, “a indústria seguradora, como gestora e portadora do risco, pode ajudar e incentivar a sociedade, os negócios e os governos a tornarem-se mais resilientes e contribuir para orientar investimentos e recursos financeiros para áreas que ajudam a mitigar as alterações climáticas e a adaptar-nos aos seus impactos. É uma indústria que gere mais de 30 triliões em ativos à escala global”, nota.
No âmbito das Nações Unidas, há incentivos, destaca o responsável na UNEP. “Temos um conjunto de iniciativas que procuram mobilizar a indústria seguradora para a causa ambiental. Em 2012, lançámos os princípios para uma indústria seguradora sustentável, e em 2021 produzimos o primeiro estudo global sobre o impacto das alterações climáticas nos modelos de risco e de negócio das seguradoras.” Mais recentemente, “em abril deste ano, lançámos o Fórum para a Transição da Indústria Seguradora para a Neutralidade Carbónica, do qual a Fidelidade é um dos membros fundadores”.
Como concluiu o responsável pela área seguradora no UNEP, “estes são sinais políticos crescentes para endereçarmos não só a crise climática, como a crise da biodiversidade e a perda de ecossistemas”.