Já não basta dizer que “um dia” teremos de começar a fazer as coisas de forma diferente. A mudança tem de ser operada já. A boa notícia é que, efetivamente, já há muitas alterações em marcha. Se, enquanto indivíduos, todos temos uma quota parte de responsabilidade, o mundo empresarial apresenta-se cada vez mais como motor de mudança, já que funciona a uma escala que influencia a economia e a sociedade, de uma forma que, dificilmente, apenas um indivíduo o fará. A não ser que seja alguém como o designer social holandês Daan Roosegaarde. Ouvi-lo falar é, só por si, uma experiência extraordinária. E essa será uma realidade para quem assistir à EDP Business Summit, um evento online a realizar-se esta tarde. Com Daan, compreendemos que o mundo da tecnologia e da preservação do ambiente pode facilmente andar de mãos dadas com o design, a criatividade e a fruição do belo. O seu entusiasmo e a paixão com que fala dos seus projetos faz com que seja muito fácil acreditar que um mundo melhor, menos poluído, mais cooperante e onde estamos todos mais ligados, não só é desejável, como possível. Para Daan, neste mundo hipertecnológico, a criatividade é o nosso verdadeiro capital e a tecnologia pode ser usada para explorar o papel social do design e ativar soluções para melhorar a vida em ambientes urbanos. São muitos os exemplos práticos da forma como coloca este bem valioso ao serviço da comunidade, e com que nos tem brindado ao longo das últimas duas décadas.
O futuro é cheio de luz
Um dos projetos pelo qual ficou conhecido é o Van Gogh Path (O caminho de Van Gogh), inspirado pelo quadro “Noite estrelada” daquele pintor holandês. Daan desenhou uma ciclovia feita de milhares de pedras cintilantes, que recebem luz solar durante o dia e emitem luz à noite. Com uma componente quase mágica, demonstra como se pode iluminar um caminho sem outra fonte que não a energia solar, incentivando (ainda mais) o uso da bicicleta como meio de transporte, e não apenas para lazer. Vencedor de diversos prémios, como “Melhor Conceito de Futuro”, “Prémio de Design Holandês”, “Prémio de Inovação da Accenture” e “Prémio INDEX da Dinamarca”, faz parte de um projeto mais abrangente designado por Smart Highway. Este pretende extrapolar o mesmo conceito, mas para autoestradas. A empresa de construção Heijmans e o atelier de Roosegaarde estão a trabalhar juntos no desenvolvimento destas tecnologias – ‘Glowing Lines’ e ‘Dynamic Paint’ – e já desenvolveram e testaram com sucesso dois protótipos, numa parceria com o município de Eindhoven. Espera-se que venham a ser disseminados por essas estradas fora.
Mas há outro conjunto de projetos com uma pertinência mais palpável, como as suas torres purificadoras de ar, com sete metros de altura. O Smog Free Project, como é designado, remove os poluentes do ar e já foi implementado nas cidades chinesas de Tianjin, Dalian e Pequim, em Roterdão, na Holanda, em Cracóvia, na Polónia, e no Parque Nacional Jirisan, em Pyeongchon-ri, na Coreia do Sul. De acordo com um estudo conduzido pela Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, estas torres reduzem em mais de 45% a presença de partículas poluentes no ar nos 20 metros de diâmetro à volta da estrutura. Curiosamente, as partículas recolhidas durante o processo são comprimidas e transformadas num anel, que é vendido para ajudar a suportar os custos do projeto.
Um espetáculo de luzes que simula a subida do nível das águas do mar nas cidades holandesas foi outro projeto de grande impacto. Mais do que chamar a atenção para o problema em si, quis criar uma experiência comum a todos os que assistiram, ajudando na construção deste futuro que se quer “limpo e bonito” ou “schoonheid” (uma palavra holandesa que Daan usa muito acerca do seu trabalho e que significa beleza e limpeza).
A solução está na terceira via
Daan Roosegaarden talvez ainda não conheça Bertrand Piccard, mas ambos usam a sua capacidade de ver o que não é palpável para trabalhar na transformação deste mundo. Ambos têm uma visão otimista da realidade e serão oradores na EDP Business Summit, já esta tarde, uma conferência digital com inscrições grátis.
Nascido no seio de família de exploradores científicos que conquistaram a estratosfera e o abismo, Bertrand Piccard entrou para a história ao dar uma volta num balão sem escalas (o mais longo voo de sempre em duração e distância) e ao realizar mais tarde a volta ao mundo num avião movido apenas pela energia solar (projeto Solar Impulse): voou 42 mil quilómetros em mais de 500 horas, com 17 escalas no total. Embora saiba que ainda não é possível replicar este feito num avião maior de transporte de pessoas e mercadorias, o seu objetivo era sobretudo mostrar que só é impossível o que ainda não foi feito e que as energias renováveis podem alimentar estes impossíveis. Piccard acredita que, mesmo para quem não aja em nome da sustentabilidade, a transição energética é o caminho mais lógico e financeiramente mais vantajoso. “Enquanto poluir o planeta for mais barato do que preservá-lo, a humanidade continuará a fazê-lo. Um ser humano não é propenso a preocupar-se com consequências que duram mais do que a sua existência. É exatamente aqui que o nosso trabalho entra. A proteção do meio ambiente e a mudança de comportamentos precisam de ser recompensadas, ter benefício, dar lucro”.
Fundador e presidente da Solar Impulse Foundation, procurou um conjunto de mil soluções eficientes para proteger o meio ambiente de uma forma lucrativa. Não se trata de ideias ou projetos embrionários, mas produtos ou serviços já no mercado ou em vias de o fazer, às quais não só confere o seu “selo de qualidade” (Efficient Solutions Label), como ajuda a promover. “Elas provam que a divisão entre crescimento e proteção climática está obsoleta e precisa de ser reajustada”, afirma.
E as soluções ambientalmente sustentáveis são muitas: “basta olhar para o nosso portfolio e ficamos com uma ideia do vasto número de oportunidades económicas que existem”. No entanto, alerta que “o trabalho mais importante é garantir que todas estas soluções sejam usadas. É por isso que pretendo ver o maior número possível de líderes empresariais e governantes e convencê-los de que seria absurdo não aproveitar as inúmeras oportunidades disponíveis”.
Para Bertrand Piccard, não há apenas a visão fatalista de parar o desenvolvimento para diminuirmos a nossa pegada ecológica, criando o caos social, nem a necessidade de continuar a poluir para garantir a nossa forma de vida. Há uma terceira via: a do crescimento qualitativo, que permite criar empregos e fazer dinheiro. Basta substituir o que polui pelo que protege o ambiente. Acredita que garantir a qualidade de vida é urgente, pelo que é preciso colocar a inovação e o pioneirismo ao serviço de todos. Bertrand Piccard é Embaixador da Boa Vontade das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Conselheiro Especial da Comissão Europeia. E deve ser ouvido. Assista hoje à tarde ao evento EDP Business Summit.