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O financiamento e a governança como ferramentas para garantir uma transição energética

O financiamento e a governança como ferramentas para garantir uma transição energética

Ana Sousa (CERENA-IST), Catarina Vazão (Get2C), Jorge Vasconcelos (New Energy Solutions), Rodrigo Vilanova (Galp) e Victor Moure (Schneider Electric) apontaram alguns caminhos no sentido de acelerar a tão almejada transição energética.

A palavra sustentabilidade deixou de ser uma fantasia ou algo anunciado pelo mundo empresarial, muitas vezes sem concretizar. Hoje, a sustentabilidade faz parte do plano de negócios das empresas e da sua viabilidade, não só a médio e longo prazo, mas mesmo no presente. Aqui, há questões particularmente relevantes, como o financiamento, a velocidade a que a transição energética se vai realizar e de que forma vai realmente acontecer.

No painel “O futuro da energia – como garantir uma transição energética”, Rodrigo Vilanova, vice-presidente executivo – Energy Management na Galp, admite que, com o Acordo de Paris – que visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e estabelece como um dos seus objetivos de longo prazo limitar o aumento da temperatura média global a níveis bem abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais –, a direção é clara. “Na Europa, quando comparada com outros mercados, não só há uma consciência como uma estruturação, uma organização e regulação que tem vários incentivos económicos corretos. Ter os mecanismos e as políticas públicas que propiciem ao mercado e facilitem essa transição energética é a melhor forma de atingir e acelerar estes objetivos”.  

Empresas não conseguem lidar com requisitos

No evento, Catarina Vazão, partner da Get2C e da Trade2C, relembrou que quando o Roteiro Nacional para a Neutralidade Carbónica foi traçado, em 2018, sabia-se, à partida, que teria de ser um esforço repartido por todos, fosse o setor público, privado, desde empresas a municípios até ao cidadão. “Para esse esforço, temos muito investimento associado”, mencionou. “Quando falamos em financiamento climático, temos de falar em formação, em sensibilização e dar conhecimento de que essas ferramentas existem”. Catarina Vazão considera que esses mecanismos de financiamento, quer ao nível europeu, quer ao nível nacional – com o Fundo Ambiental ou mesmo o PRR – têm dinamizado a atuação das empresas, “definindo os seus planos e estratégias e identificando oportunidades de financiamento”.

A especialista admite que as empresas têm muito pouco tempo para se prepararem para todas as obrigações e exigências inerentes a este tipo de financiamento, além de que a esmagadora maioria se apercebe de que não consegue dar resposta a todos os requisitos. “Seria particularmente importante que no momento da candidatura houvesse uma discussão alargada na qual se perceba quais as necessidades de cada tipo de entidade, quais as limitações e, quando a candidatura for desenhada, estar ajustada à realidade.”

Menos é mais

Jorge Vasconcelos, CEO, NEWES, New Energy Solutions, concordando com a visão de Catarina Vazão, diz mesmo haver “um excesso de burocracia não justificado”. O executivo esclarece que, quando se fala de transição energética, o primeiro princípio básico é suficiência, no sentido de que devemos tentar reduzir a procura de energia e utilizar apenas a necessária.

Aliás, Jorge Vasconcelos congratulou a organização ao escolher para título deste painel “Como garantir uma transição energética” já que, no seu entender, não há apenas uma, mas várias transições. “Esta é uma questão importante. Não há um determinismo que nos diga como vamos fazer a transição. Há graus de liberdade que temos de exercer e é uma responsabilidade cívica. Em democracia temos esse direito”.

Por um lado, esclarece Jorge Vasconcelos, estamos a falar de objetos técnicos, como o ar condicionado, a bateria, o automóvel ou uma bomba de calor e, depois, numa outra dimensão igualmente importante, a vertente institucional. “O mais interessante é olharmos para a interceção das duas e percebermos como é que as novas técnicas permitem fazer evoluir os mercados de energia e como esta evolução do mercado vem potenciar novas técnicas, nomeadamente as clean tech – as técnicas limpas.”

Para o especialista, hoje, “onde podemos acelerar de uma forma mais custo-eficiente a transição é na eletrificação do calor e do frio e na eletrificação da mobilidade e isto faz-se essencialmente ao nível urbano, onde se registam as maiores necessidades.” Ou seja, é feito ao nível local, onde, no entender de Jorge Vasconcelos, é necessário reinventar a governança ao nível intermunicipal. “É aqui que deve começar, o resto vem por arrasto”, disse na conferência.

O quilowatt mais limpo é o que não se consome

Neste momento, o setor residencial consome cerca de 20% da energia final. Uma percentagem relativamente baixa face ao consumo global, pelo que, segundo Ana Sousa, investigadora do Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA-IST) do Instituto Superior Técnico, a grande intervenção na mudança da redução das emissões de gases com efeito de estufa é ao nível dos transportes e da indústria.

No setor residencial, Ana Sousa identifica um problema sobretudo de literacia energética. “Existe um gabinete de apoio que pode ajudar a submeter a candidatura para obter os fundos”, sendo que primeiro tem de haver o investimento por parte dos particulares que só depois serão ressarcidos do valor, até determinada percentagem. Aqui, na literacia energética, Ana Sousa diz que o papel das universidades e escolas pode ser fundamental.

“O quilowatt mais limpo é aquele que não é consumido”, disse Victor Moure, country manager Portugal da Schneider Electric neste painel moderado por André Macedo. “Pode ser trivial ou um jogo das palavras mas a verdade é que os edifícios são responsáveis por 40% das emissões de CO2”. Por isso, diz ser fundamental que as empresas apostem em sistemas eficientes do ponto de vista energético, para além da otimização da gestão dos processos de eficiência de produção. O problema é que, atualmente, segundo Victor Moure, ainda não são muitos os gestores nacionais que assumam este propósito e dispostos a fazer o investimento necessário.

Ir mais além das metas

Rodrigo Vilanova, vice-presidente executivo – Energy Management da Galp, explicou à plateia que a empresa tem um novo propósito, explícito no slogan “Juntos vamos regenerar o futuro” e concretizado no facto de 50% do CAPEX da empresa já ser em investimento de baixo ou zero carbono. “Colocamos também metas de redução de intensidade carbónica, o net zero em 2050, mas já há redução de 40% até 2025”, explicou. No entanto, para Rodrigo Vilanova, o objetivo vai muito mais além destas metas. “Não é só reduzir as nossas emissões, é viabilizar que os nossos clientes, parceiros e sociedade em geral tenham a oportunidade de realizar a sua própria redução”.

Para este executivo, a consciencialização dos gestores e líderes das empresas é fundamental, mas quando se fala ao nível mais fragmentado, do consumidor individual, sendo importante a consciencialização, o incentivo económico é fundamental.

O vice-presidente concorda que os dois principais pontos para acelerar a transição são atuar sobre os edifícios e a mobilidade ligeira. “Quando vamos para campos mais difíceis, como a mobilidade pesada ou algumas indústrias, já temos de falar em descarbonização de combustíveis líquidos e gasosos”. Um “campeonato” no qual já entra o hidrogénio, os óleos vegetais ou os combustíveis sintéticos, entre outros. “Tem de haver incentivos para que haja uma mudança estrutural no que é mais fácil, como a mobilidade ligeira e edifícios, mas também no que é mais complicado, como a mobilidade pesada e alguns setores industriais.”

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