“A energia solar pode ser a principal fonte de eletricidade na UE em 2030”
A União Europeia está em plena aceleração para a transição energética, com o recém-lançado programa REPowerEU. Sol, vento e hidrogénio estão no centro da estratégia, com destaque para os telhados solares a serem implementados já a partir de 2025.
A guerra na Ucrânia veio acelerar a transição energética que já estava a ser implementada na União Europeia (UE). Para além da redução dos combustíveis fósseis como fonte de energia, para cumprir objetivos ambientais estabelecidos, a necessidade de eliminar a dependência do gás da Rússia veio precipitar esta transição, dando origem ao programa REPowerEU, que tem como objetivos aumentar a eficiência energética e poupar energia, diversificar as fontes de gás para fornecer a UE e proceder à transição para as energias renováveis.
No caso das renováveis, “até 2030, a energia eólica e a energia solar aumentarão dos atuais 33% para 67% na produção de energia. Consideramos que, até 2030, a energia solar poderá ser a maior fonte de eletricidade na UE, sendo que mais de metade desta energia virá de telhados”, disse Paula Abreu Marques, chefe de unidade na Direção-Geral de Energia da Comissão Europeia, na “Portugal Energy Conference”, uma iniciativa organizada pelo Negócios, Sábado e CMTV sobre o futuro da energia, que decorreu no passado dia 8 de junho, em Lisboa.
Para enfrentar os atuais desafios energéticos, a responsável considera que é “fundamental movimentar todo o potencial do solar. Há um objetivo colocado sobre a mesa, de forma a atingir 320 gigawatts até 2025 de energia solar e 600 gigawatts até 2030”, destacando para este fim a “obrigação legal de criar telhados solares para determinadas categorias de edifícios, a serem implantados gradualmente, nos próximos anos, mas começando já com os novos edifícios comerciais e públicos a partir de 2025”. O programa REPowerEU pretende ir além do objetivo de atingir 40% de consumo de energias renováveis em 2030, previsto no programa Fit For 55, propondo a meta de 45%.
Porém, salientou Paula Abreu Marques, “é importante saber que não colocaremos a utilização de energias renováveis acima da proteção ambiental, mas ambos os interesses estarão em pé de igualdade”. Em conformidade com o REPowerEU e as regras revistas da UE sobre energias renováveis em maio passado, os Estados-membros são obrigados a cartografar áreas terrestres e marítimas adequadas para projetos de energias renováveis. Isto significa designar áreas aptas para renováveis (as denominadas “go-to areas”) e evitar áreas de valor ambiental.
No campo da transição, os gases renováveis são outro dos pilares para a UE, com destaque para o hidrogénio. “Existe a intenção de reforçar as capacidades industriais e para isso utilizamos como base uma declaração assinada com a indústria em abril. Propomos os próximos passos para acelerar a espinha dorsal europeia do hidrogénio e apresentaremos um primeiro mapa das necessidades de infraestruturas já no início do próximo ano”, referiu a chefe de unidade.
A CE também delineou um plano de ação para impulsionar a produção doméstica de biometano, com o estabelecimento de uma aliança com a indústria, similar à estabelecida para o hidrogénio. “Mais eletricidade renovável, mais biometano e mais hidrogénio irão ajudar-nos a afastar mais rapidamente dos combustíveis fósseis russos no setor energético, mas também na indústria e nos transportes”, assinala Paula Abreu Marques, acrescentado que “tudo terá de ser complementado com alguns projetos de infraestruturas em curso e novos, o que nos custará cerca de 210 mil milhões de euros até 2027, que é a data para nos vermos livres dos combustíveis fósseis russos”. De salientar que esta dependência era de 40% em 2021 e reduziu para 26% em 2022.
No campo da diversificação das fontes de gás, está a ser desenhado um mecanismo conjunto europeu para compra de gás, semelhante ao utilizado na aquisição de vacinas para a covid-19. Este mecanismo de aquisição conjunta é voluntário e tem como objetivo “alavancar o poder do mercado europeu”.
Paula Abreu Marques salientou também “o potencial da Península Ibérica para contribuir para a segurança do aprovisionamento da UE, tanto como ponto de entrada, como também como central elétrica para as energias renováveis e o hidrogénio”.
Desenhados os objetivos e feita a legislação, é agora necessário que a indústria se movimente para desenvolver todo o potencial existente. “Precisamos que a indústria europeia seja ativa e também que tenha as competências certas disponíveis. Teremos de expandir as nossas capacidades de produção na Europa”, reforçou a responsável.