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O significado da transição energética

O significado da transição energética

A transição energética que o mundo enfrenta vai muito para além de uma mudança de fonte de energia ou combustível. Passar de uma matriz energética centrada nos combustíveis fósseis para uma com zero ou baixas emissões de carbono, baseada em fontes renováveis, vai ter impacto no clima, na economia e na forma como a sociedade está organizada.

Os dados são da Organização Meteorológica Mundial (OMM): os últimos seis anos foram os mais quentes desde 1880, com 2016, 2019 e 2020 a registarem as temperaturas mais elevadas. Aliás, o ano 2020 assinalou 1,2 °C acima das temperaturas da era pré-industrial. Uma tendência que a OMM prevê ir intensificar-se em 20% já em 2024. “A velocidade a que as temperaturas estão a aumentar é alarmante”, dizia Pascal Peduzzi, diretor da GRID-Genebra, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, no início deste ano. “Neste ritmo, podemos atingir +1,5 °C nos próximos 15 anos”, advertiu.

Qual o real impacto desta variação da temperatura? O aquecimento global, para além de provocar o degelo dos glaciares e o aumento do nível do mar, desencadeia outras mudanças climáticas, como a desertificação e o aumento de fenómenos como furacões, inundações e incêndios, aportando ao planeta danos incalculáveis.

Um trabalho realizado pelo Centro Nacional Francês de Investigação Científica (CNRS), publicado na revista Nature, aponta para a perda, em média, de 267 mil milhões de toneladas de gelo por ano desde 2000. Os investigadores descobriram que a redução dos glaciares acelerou nos últimos anos, passando de 227 mil milhões de toneladas de gelo perdidas anualmente entre 2000 e 2004 para 298 mil milhões entre 2015 e 2019.

O famoso Acordo de Paris

Para tentar combater este fenómeno, os Estados-membros da União Europeia assinaram em 2015 o denominado Acordo de Paris, no qual se comprometeram a limitar o aquecimento global abaixo de 2 °C, de preferência a 1,5°C, em comparação com os níveis pré-industriais. Cada país signatário do acordo estabeleceu uma meta, conhecida como Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), para reduzir as emissões de gases de efeito estufa por volta de 2030. No ano passado, em Glasgow, esse compromisso foi reforçado, com as nações a comprometerem-se a alcançar a chamada Carbon Neutrality até 2050.   

Em janeiro deste ano, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, disse que 2021 foi um ano crítico para o clima, solicitando aos Estados-membros que apresentassem as suas NDC para reduzir as emissões globais em 45% até 2030, em comparação com os níveis de 2010. Pediu ainda aos doadores e bancos de desenvolvimento que aumentassem a participação dos recursos financeiros destinados à adaptação de 20% para pelo menos 50% até 2024. E insistiu que os países desenvolvidos cumprissem o seu compromisso de mobilizar 100 mil milhões de dólares anuais para a ação climática nos países em desenvolvimento.

O papel da transição energética

Os especialistas não têm grandes dúvidas de que as emissões antropogénicas de gases de efeito estufa na atmosfera são as grandes responsáveis pelo aquecimento global, tornando a transição energética primordial no caminho de proteger o planeta desta ameaça. Esta transição basicamente implica passar de uma matriz energética focada nos combustíveis fósseis para uma com zero ou baixas emissões de carbono, baseada em fontes renováveis.

Aliás, não é propriamente a primeira vez que as sociedades e economias globais lidam com uma transição energética. No século XIX, passámos da madeira para o carvão. E já em pleno século XX, deixámos o carvão e optámos pelo petróleo. A grande diferença, desafio e urgência na atual transição é que nunca o planeta esteve tanto em risco.

A transição energética que atualmente o mundo enfrenta vai muito para além de uma mudança de fonte de energia ou combustível. Vai ter impacto no clima, obviamente na economia e na forma como a sociedade está organizada. Hoje, falamos na digitalização e inteligência das redes que abrem caminho para novos serviços que irão satisfazer as necessidades de toda uma nova tipologia de consumidores. Falamos em fontes renováveis, em mobilidade elétrica e em sustentabilidade social, no sentido de encontrar novas formas de trabalho para ajudar também à transição de funções deste novo mundo. Porque inclusão é, também, uma palavra que tem de ser inserida nesta transição, rumo a uma transição energética justa.

O impacto da guerra na transição energética europeia

A par de todos os desafios ambientais, o mundo vê-se agora assolado por um clima de guerra. A 8 de março de 2022, e perante a invasão russa da Ucrânia, a Comissão Europeia apresentou a iniciativa REPowerEU. Este plano, que visa alcançar a independência europeia dos combustíveis fósseis russos antes de 2030, foca-se principalmente no gás russo, e propõe medidas que se destinam não só a dar resposta ao aumento dos preços da energia na Europa, como também a salvaguardar as reservas de gás para o próximo inverno.

A REPowerEU tem o objetivo de diversificar o aprovisionamento de gás e inclui medidas que permitirão que a procura de gás russo se veja reduzida em dois terços até ao final de 2022.

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Assim, e entre outros aspetos, esta iniciativa tem o objetivo de diversificar o aprovisionamento de gás e inclui medidas que permitirão que a procura de gás russo se veja reduzida em dois terços até ao final de 2022. A REPowerEU contempla um conjunto de ações que permitirão a redução faseada de, no mínimo, 155 mil milhões de metros cúbicos de gás fóssil, valor este que é equivalente ao total das importações russas para o ano de 2021, explica. 

De forma sucinta, esta iniciativa foi considerada essencial atendendo ao cenário geopolítico atual e considerando que as importações de gás da UE representam atualmente 90% do total do consumo, sendo que a Rússia representa aproximadamente 45% deste valor. Por todos estes motivos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “temos de nos tornar independentes do petróleo, do carvão e do gás russos. Não podemos depender de um fornecedor que nos ameaça explicitamente.”

Kadri Simson, comissária da Energia, não tem dúvida de que “a invasão da Ucrânia pela Rússia agravou a situação da segurança do aprovisionamento e conduziu os preços da energia a níveis sem precedentes”, avançando que “a Comissão proporá que, até 1 de outubro, as capacidades de armazenamento de gás na UE tenham de ser aprovisionadas, pelo menos, em 90%”. No tópico da energia, já em maio, Ursula von der Leyen admite que “a guerra está a perturbar fortemente o mercado global de energia”, mostrando o quanto a Europa é dependente dos combustíveis fósseis importados. “Mas também mostra como somos vulneráveis ​​a depender da Rússia para importar os nossos combustíveis. E, portanto, devemos agora reduzir o mais rápido possível a nossa dependência.” Uma iniciativa que já está a ter efeitos práticos já que, segundo a UE, no ano passado, 40% do gás importado foi proveniente da Rússia, sendo que já este ano, em abril, essa percentagem caiu para 26%. “Estão a ir na direção certa, mas temos de acelerar”, disse Ursula von der Leyen.

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