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Cuidar de quem cuida: gestos que mudam vidas

Fomos conhecer a Associação Cuidadores, criada no Porto em 2016, e que é hoje uma referência no apoio aos cuidadores informais. Já distinguida com o Prémio Fidelidade Comunidade, promove formação, apoio psicológico, descanso, projetos de voluntariado e apoia também jovens cuidadores. A sua missão é dar apoio, visibilidade e dignidade a quem cuida.

Se cuidar de alguém é um ato de amor, é também muitas vezes uma missão solitária e exigente. Foi da consciência das dificuldades por que passam os cuidadores informais que nasceu em 2016, no Porto, a Associação Cuidadores, uma entidade sem fins lucrativos. “A nossa missão nasceu de uma experiência pessoal como cuidador”, explica Ana Luísa Pinto, cofundadora e diretora-executiva. “Sabíamos que muitos cuidadores em Portugal viviam o mesmo desafio – cuidar sem apoio nem reconhecimento – e sentimos que era urgente agir para apoiar estas pessoas”, explica.

No País, existem 1,4 milhões de cuidadores informais. Hoje, a associação é uma referência nacional no apoio e acompanhamento a pessoas cuidadoras informais, promovendo a sua inclusão e bem-estar, através de informação e aconselhamento, consultas de psicologia, sensibilização, capacitação e disponibilização de pausas breves para descanso. A Cuidadores promove ainda o voluntariado aproximando a comunidade a esta causa.

Apoio abrangente e preventivo

A atividade da Cuidadores é abrangente e preventiva. “Trabalhamos as diferentes fases da vida do cuidador: o pré-cuidador, o cuidador ativo, o cuidador empregado, e o pós-cuidador. É um modelo holístico, adaptado a cada realidade”, explica a diretora.

A psicóloga Cristina Barbosa, que trabalha na associação, acrescenta: “Promovemos ações de capacitação com ferramentas práticas – como comunicar com a pessoa cuidada, compreender o diagnóstico, e conhecer os direitos previstos no Estatuto do Cuidador Informal.”

Além da informação e da formação, há acompanhamento psicológico: “Trabalhamos a gestão de conflitos, o luto antecipatório e o luto dos pós-cuidadores”, acrescenta a psicóloga. Inês Ribeiro, sua colega neste projeto, sintetiza: “Imaginemos uma mãe que acaba de ter um filho. Todos perguntam pelo bebé, mas raramente alguém pergunta como está a mãe. O mesmo acontece com os cuidadores.”

Os jovens também cuidam

Mais recentemente, a associação desenvolveu um projeto-piloto de apoio a crianças e jovens, que muitas vezes estão envolvidas no cuidado a familiares, em parceria com o Agrupamento de Escolas Fontes Pereira de Melo, mais concretamente na Escola EB 2/3 Maria Lamas, no Porto. O projeto J-CUIDA inclui um plano de sessões semanais de sensibilização aos alunos do 2.º e 3.º ciclos e às equipas de docentes e não docentes. Além disso, foi criado nesta escola um Gabinete de Apoio ao Jovem Cuidador, iniciativa inédita em Portugal. “É um espaço de escuta e apoio psicológico, em que os jovens aprendem a cuidar sem se anularem”, explica Inês Ribeiro.

O poder das pausas breves

Entre as iniciativas mais transformadoras da associação está o projeto Pausas Breves, que mobiliza voluntários para propocionar companhia as pessoas cuidadas e alívio da sobrecarga aos cuidadores durante algumas horas. “São duas horas por semana em que ficamos com a pessoa cuidada para libertar a cuidadora, que está com ele 365 dias por ano”, explica Teresa Perdigão, voluntária desde março de 2024. “Saio daqui a sentir-me uma pessoa melhor. O meu tempo não foi desperdiçado”, afirma. Viorela, voluntária neste projeto, não hesita: “Foi a melhor coisa que me aconteceu recentemente.”

Reconhecimento e futuro

Um marco importante da vida da Cuidadores foi ter vencido o Prémio Fidelidade Comunidade em 2023, uma distinção que “permitiu alargar serviços e chegar a mais cuidadores”, explica Ana Luísa Pinto. “Criámos o projeto Cuidar Mais Ativo, em parceria com a Siel Bleu Portugal, com apoio psicológico, pausas breves, formação e atividade física adaptada”, conta. Apesar dos avanços, para a diretora há muito para fazer pelos cuidadores informais. “O Estatuto do Cuidador Informal foi um passo importante, mas faltam medidas mais ágeis e adaptadas às necessidades reais”, alerta.