Sul: Episódio #12
São raros os países que se podem gabar de ter uma estrada que os percorre de norte a sul, e Portugal é um deles. A "mítica", como é (e bem) reputada a Nacional 2, é uma rota histórica cheia de encantos, onde as tradições perduram e a história continua a escrever-se. No último episódio do programa Nacional 2 - Mais do que uma estrada, fazemos nossas as palavras de António Aleixo: "Meu Algarve encantador, p'ra o poeta e p'ra o pintor tens motivo de sobejo... Até eu, se tivesse arte, queria ao mundo mostrar-te como te sinto e te vejo". Ponha o cinto: vamos arrancar em direção a Loulé, São Brás de Alportel e Faro.
Publicado em 12 de Outubro de 2022 em 09:58 | Por Cofina Boost Content
Depois do sóbrio Alentejo, entramos no reino das alfarrobeiras, dos pinheiros e da verde paisagem pouco sobressaltada. Ao quilómetro 688, chegamos a Loulé. Abílio Sousa, vereador da câmara municipal, convida todos a dar um salto ao interior algarvaio e visitar o que esta região tem de bom, nesta magnífica Nacional 2, que "foi o motor da economia da serra do Caldeirão durante muitos anos. Hoje, com a nova dinâmica que foi implementada, toda a serra ganhou nova vida, nomeadamente a restauração, que tem excelentes pratos para degustar."
Da serra até ao mar
Por entre o barrocal algarvio e a serra do Caldeirão, Loulé é um destino almejado dos amantes das caminhadas (com mais de uma dezena de percursos pedestres), da prática do golfe e, no litoral do concelho, dos que procuram as glamorosas estâncias balneares no afamado “Triângulo Dourado” (Vale do Lobo, Quinta do Lago e Vilamoura). Decidimos passear na tranquila e singular Praia de Loulé Velho, envolvida por um extenso pinhal. Aqui, quando o mar recua, é possível ver antigos tanques romanos de salga de peixe.
Manancial histórico e cultural
Se foram os romanos que impulsionaram a economia local com a indústria conserveira, a agricultura e a exploração mineira do ferro e do cobre, a conquista dos muçulmanos deu forma àquela que viria a ser a cidade histórica atual. Hoje, apesar de ser um polo comercial, Loulé preserva o encanto e a autenticidade de outros tempos.
Na cidade, o Mercado Municipal é imperdível. Inaugurado em 1908, obra do arquiteto Alfredo Costa Campo, é um dos melhores exemplos da arquitetura com inspirações mouriscas no Algarve.
Dali partimos à descoberta do Castelo de Loulé e demos largas à imaginação. De origem árabe e reconstruído no século XIII, parte do seu perímetro amuralhado resistiu ao tempo. Daqui veem-se ruas labirínticas, escadas e vielas cheias de artesãos que defendem a reputação desta cidade como capital do artesanato do Algarve. Aproveite para descobrir as famosas chaminés em filigrana do Algarve.
Num ápice, chegamos ao Museu Municipal de Loulé que, através dos vários polos museológicos, promove inúmeras atividades ligadas à cultura e ao desenvolvimento do território. Uma vasta oferta de pontos de interesse não falta e, na impossibilidade de os visitar a todos, fomos ao encontro de alguns. No centro da cidade, como que a desenhar uma porta temporal, encontram-se as ruínas da Igreja da Graça, um convento do século XIV do qual apenas resta o portal da igreja. Já a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, esconde um magnífico altar em talha dourada e painéis de azulejos do século XVIII, e a Igreja Matriz de São Clemente foi construída no local de uma antiga mesquita, tendo sido o minarete adaptado para torre sineira.
À medida que seguimos viagem por este troço épico da Nacional 2, com curva, contracurvas e deslumbrantes paisagens da serra do Caldeirão como pano de fundo, vai-se desfazendo o mito de que o Algarve é só praia. Ao quilómetro 721, a localização de São Brás de Alportel, entre a serra e o mar, faz dela um destino imperdível.
Uma vila cheia de encantos
Começamos a descoberta passeando por entre o casario branco com as típicas chaminés rendilhadas, em que o antigo e o novo convivem lado a lado. No Lavadouro e Fonte Nova, onde palpita o coração do centro histórico, podemos ouvir ecos do passado. Agora reabilitado, este espaço de memória e de reencontro com a natureza, constitui um ponto de paragem obrigatório.
Ali tão perto, encontramos a Igreja Matriz de São Brás de Alportel, construída sobre um anterior edifício do século XV. No seu interior, além do batistério com retábulo em mármore, ao estilo neoclássico e único na região algarvia, não deixe de apreciar a capela-mor onde estão colocadas quatro telas seiscentistas. Já do exterior, desfrute de uma das mais belas vistas locais, de onde pode vislumbrar a serra e o mar.
São só mais uns passos até chegar ao Antigo Palácio Episcopal, um magnífico edifício que, em finais do século XVI, serviu de residência de verão aos bispos do Algarve. Contíguo ao Palácio Episcopal, pode ver-se o Passo da Paixão, com o seu frontão setecentista e, um pouco adiante, o Largo da Praça Velha, que foi, no passado, o centro do comércio local. Não muito longe, pode mergulhar (literalmente) nas piscinas municipais ou fazer uma imersão cultural no Centro Museológico de Alportel, lugar da história e cultura locais que nos leva numa viagem entre o passado e o presente.
Pelos caminhos da história
A uma curta distância do centro, há que visitar as ruínas romanas de Milreu, cuja riqueza patente no importante volume de achados arqueológicos, com mosaicos de temática predominantemente marinha, revestimentos marmóreos e cerâmicos ou esculturas revelam uma ocupação continuada durante muitos séculos.
Para desvendar os segredos da antiga via de origem romana – hoje designada por Calçadinha de São Brás de Alportel –, porque não aventurar-se no passeio pedestre que liga São Brás a Milreu pela calçadinha romana? A aventura promete ser memorável.
Faro marca a última paragem desta roadtrip. Se a capital da região mais a sul de Portugal não tem 365 dias de sol por ano, anda lá perto. Junte-lhe um rico património histórico, natural e cultural, a sua gente, a sua gastronomia, as praias e a idílica Ria Formosa, uma agenda cultural bem preenchida e um espírito enérgico e cosmopolita, e tem o cenário ideal para fechar esta aventura com chave de ouro. Aqui chegados, não pode faltar a fotografia da praxe junto à rotunda do quilómetro 738. Apesar de este ser o ponto mais fotogénico, só o marco quilómetro 738,5 marca o fim desta rota épica.
Por falar em fotografias (e telemóveis)
Durante a viagem foram muitas as fotografias tiradas com o telemóvel, para mais tarde recordar. Perder tudo por causa de uma avaria? Fora de questão, porque a iServices tem sempre a solução. Esta empresa, que opera a nível nacional, tem em Faro uma loja muito bem localizada, pronta a reparar com urgência qualquer telemóvel ou tablet.
Diversão e descanso, logo para começar
Antes de visitar a cidade, uma boa dose de diversão. No Aquashow, para nós o melhor parque da região, tivemos uma tarde bem passada. Com as atrações mais modernas e seguras, entre as quais a Mammoth Blast com os seus divertidos escorregas e a já famosa montanha-russa, este parque tem tudo e mais alguma coisa para proporcionar tempo de qualidade a todos os visitantes.
Com o cansaço a despertar à medida que o sol desaparecia no horizonte, nada melhor do que pernoitar no AP Eva Senses Hotel, pertencente à cadeia AP Hotels & Resorts, e gozar de um merecido descanso. Além dos quartos superconfortáveis, do restaurante-bar panorâmico com música ao vivo e da piscina no último piso, onde pode usufruir dos incríveis sunsets com ótimos cocktails, o hotel ainda tem uma localização privilegiada: fica mesmo em frente à marina de Faro e muito próximo dos principais pontos de interesse da cidade.
Cidade adentro, pelo maravilhoso património cultural
Na chamada cidade velha, reinam o castelo e as suas muralhas, onde está inscrita grande parte da história de Faro, desde a fundação tardo-romana até ao presente. Pode entrar triunfalmente pelo Arco da Porta Nova ou escolher o Arco do Repouso, viajando até à conquista de Faro pelos cristãos.
Além da Igreja Matriz de São Pedro, a imponente Igreja do Carmo é imperdível. Nesta obra-prima barroca, com uma espetacular arcada interior e salas adjacentes ricamente decoradas com obras litúrgicas, também se encontra a Capela dos Ossos, construída a partir de ossadas de mais de 1000 monges, como lembrança da impermanência terrena.
O Museu Municipal de Faro também é alvo da nossa atenção. Este que é um dos museus mais antigos da região algarvia, residente no antigo convento de Nossa Senhora da Assunção, conta com exposições permanentes de arte sacra e arqueologia. A beleza do edifício, as salas renascentistas e os claustros do convento justificam a visita.
Ria Formosa, a rainha das reservas naturais do Algarve
Visitar Faro é história, e também natureza. A Ria Formosa, protegida pelo parque natural, foi classificada como uma das 7 Maravilhas da Natureza. O seu parque natural é um autêntico santuário de biodiversidade e o entorno da ria desenha um dos mais belos quadros do país. Aqui, o conceito de “ir à praia” diverge do convencional e requer, por vezes, espírito de marinheiro. Se praias de rara beleza não faltam, decidimos seguir até à Praia da Ilha de Faro, a primeira ilha-barreira para quem vem de oeste, que separa o mar da Ria Formosa.
A Estrada Nacional 2 tem (ainda) mais encanto na hora da despedida. Foram 11 distritos, 35 municípios, 11 serras, 13 rios. Foi um país a passar-nos “à frente dos olhos”, com tudo o que tem de melhor, pelas bermas de uma estrada. Quando as saudades já imperam, reina uma certeza: valeu a pena. E estamos sempre a tempo de recomeçar a aventura.