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Uma viagem
por um
Portugal
inesquecível

Embarque numa viagem em 12 episódios pelos 739 km da Nacional 2, a estrada que atravessa o território e desafia à descoberta.

De Ponte de Sor a Coruche

Anta do Vale Beiró

Sul: Episódio #9

De Ponte de Sor a Coruche

Percorrer a Nacional 2 é conhecer muitos "portugais" dentro de Portugal, e temos como certo que não é preciso ir além-fronteiras para descobrir novos mundos. Hoje vamos atravessar o rio Tejo e seguir em direção ao Sul do país. O cenário paisagístico muda de figura à medida que as curvas dão lugar às famosas retas alentejanas, desfiando-se um rol de terras com raízes autênticas e prazeres descomplicados. No nono episódio do programa Nacional 2 - Mais que uma estrada, vamos ao encontro de Ponte de Sor, Avis, Mora e Coruche, com maravilhas que o tempo não apaga.


Publicado em 21 de Setembro de 2022 em 09:00 | Por Cofina Boost Content

km 435

Ponte de Sor: tudo começou com uma ponte

De volta à nossa rota, estamos no quilómetro 435: Ponte de Sor. Este município de transição entre o Norte e o Sul do país, e entre o litoral e interior, ter-se-á desenvolvido como local de passagem, remontando a uma antiga travessia dos romanos.

Se da ponte primitiva não sobram vestígios, a ponte sobre a ribeira do rio Sor é um dos ex-líbris locais e a original ponte pedonal, da autoria do artista Leonel Moura, uma obra de arte a céu aberto. À nossa espera, encontramos uma cidade tão airosa quanto pacata, com sobreiros a perder de vista, uma barragem que é um “mar” de quietude e vários empreendimentos turísticos de grande qualidade, como bem nos explicou Luís Jordão, vereador da Câmara Municipal de Ponte de Sor. A não perder, também, os “produtos endógenos: o vinho, o mel, o azeite e a nossa gastronomia. Tudo isso enriquece o nosso território e as pessoas que aqui vêm são bem-vindas.”

Terra fidalga, alma campesina

A povoação que aqui foi medrando, dedicou-se a trabalhar as terras das ordens militares ao longo de séculos. Apesar da alma campesina das gentes, o património testemunha a sua nobre herança: descobrimos vestígios da cerca amuralhada (século XV), a Igreja Matriz (século XVII) com o belo altar dourado, e a Fonte da Vila, que, diz o povo, quem da sua água beber ficará para sempre enamorado por esta terra.

Ponte de Sor (também) é arte no presente

A contemporaneidade está bem representada nas ruas do centro da cidade, e são vários os artistas de street art que nos transportam para novas realidades. A seguir, fomos conhecer o Centro de Artes e Cultura, um espaço multidisciplinar instalado numa antiga fábrica de moagem de cereais e descasque de arroz, que alberga a Biblioteca Municipal, o Museu Municipal, o Arquivo Histórico Municipal e o Centro de Formação e Cultura Contemporânea.

Natureza no seu esplendor

Se numa margem do rio se estende uma paisagem rural com campos agrícolas e sobreiros, na outra margem espraia-se a moderna zona ribeirinha, referência da cidade para o lazer, o desporto e o bem-estar. Ponte de Sor também é lugar de moinhos e moleiros, que mantiveram um papel económico e social ativo desde o século XIII até à segunda metade do século XX. Junto à freguesia da Tramaga, enquadrados numa paisagem verdejante e fazendo jus à pacatez alentejana, fomos encontrar alguns dos Moinhos de Água de Rodízio ainda existentes.

Seguimos em direção a Montargil, terra cuja ocupação humana remonta à Pré-História, com um património sagrado notável (a não perder a quinhentista Igreja da Misericórdia e a Capela do Senhor das Almas) e onde a natureza fecha o cenário com chave de ouro na albufeira de Montargil, sempre pronta a surpreender os amantes da natureza, da cultura ou do desporto.

Em frente à barragem, avistamos o Parque de Campismo Orbitur, que goza da calmaria do Alentejo e da proximidade de Lisboa. Além das instalações modernas, alojamentos confortáveis, serviços comerciais e um ambiente verdadeiramente prazeroso, possui uma praia emoldurada no montado alentejano perfeita para praticar desportos náuticos (ski aquático, jet ski, windsurf) ou para gozar da tranquilidade da pesca ou dos passeios de barco. A diversidade de aves terrestres e aquáticas também faz deste local um paraíso para os amantes do birdwatching.

km 466

Avis, guardiã de muito património histórico

No alto de um monte granítico, Avis surge ao quilómetro 466 da Nacional 2. Esta graciosa vila do Alto Alentejo, sede de concelho, guarda a memória de uma das mais importantes ordens militares e deu nome a uma das mais emblemáticas dinastias portuguesas.

No centro da vila, ergue-se o Castelo de Avis. O que dele resta conta-nos histórias de outros tempos, quando cabia às ordens militares povoar, defender e construir cidades. Prosseguimos até ao imponente Convento de São Bento de Avis, no topo da vila, rico na arquitetura religiosa e no legado histórico que, desde 1211, as suas paredes encerram: conquistada aos mouros, D. Afonso II doou a terra ao Mestre D. Fernão Anes, que liderava a Ordem Militar de São Bento de Avis.

Hoje, este espaço ganhou nova vida, alojando o Centro Interpretativo da Ordem de Avis – com uma área expositiva que reúne nove séculos de História – e o Museu do Campo Alentejano – com um espólio dedicado ao trabalho agrícola que ultrapassa as 3.000 peças e que dá a conhecer os usos e costumes da região.

Heranças dos antepassados

Por falar em antepassados, também o património arqueológico de Avis é digno de respeito. Aqui foram encontrados vestígios e monumentos megalíticos que comprovam a sua ancestralidade, como a Anta da Herdade da Ordem, classificada como Monumento Nacional.

Avis, ao natural

Tem tempo à disposição? Siga até à barragem do Maranhão. No verão, é sinónimo de mergulhos e diversão, graças à praia fluvial e às atividades de lazer e desportivas. Do seu miradouro, desfrute e guarde a paisagem na memória. E no coração.

km 473

Em Mora, mora a paz de espírito alentejana

A viagem prossegue e a paisagem enleva-nos até chegarmos a Mora, no distrito de Évora, ao quilómetro 473. Em plena charneca alentejana, num território doado por D. Afonso Henriques aos Freires de Évora (1176), esta terra decorada com sobreiros e oliveiras tem algo de mágico. Para ficar a conhecer o concelho, há que passar pelas suas quatro freguesias: Mora, Brotas, Cabeção e Pavia.

Na vila de Mora, começámos por visitar a quinhentista e neoclássica Igreja Matriz (ou Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Graça) e a Igreja da Misericórdia.

Ainda no centro da vila, não quisemos perder o Museu Interativo do Megalitismo, único em Portugal, que tem como missão valorizar e divulgar o incrível património megalítico deste concelho, no qual se inclui o Cromeleque de Mora ou a Anta de Pavia.

O Santuário de Nossa Senhora de Brotas já prega noutra freguesia. Este templo religioso de cunho popular, na linha do manuelino e do barroco, remonta ao século XV e foi feito em memória de uma aparição milagrosa a um pastor. A emoldurar o santuário há um corredor composto pelas Casas de Confraria, que serviam para dar guarida aos peregrinos.

Do parque ecológico ao fluviário

Em Mora, a escolha é vasta, tal como o vagar pretendido. Pode deslumbrar-se com a natureza pura ao longo dos percursos pedestres, observar aves mais ou menos comuns e desfrutar de um dos maiores pontos de interesse do concelho, na freguesia do Cabeção: o Parque Ecológico do Gameiro. Situado no Açude do Gameiro, no rio Raia, aqui as atrações e as aventuras não têm fim. Além da zona de lazer, do parque de merendas e do parque de arborismo (para miúdos e graúdos que gostam de adrenalina), ainda se pode mergulhar nas águas límpidas da praia fluvial ou explorar o passadiço de madeira ao longo de um quilómetro e meio da ribeira da Raia.

Ainda no Parque Ecológico do Gameiro, encontra-se o imperdível Fluviário de Mora, uma espécie de “oceanário” de água doce. Este aquário público dedicado aos ecossistemas de água doce e à sua diversidade é um dos maiores da Europa, e uma experiência que sensibiliza todos quantos o visitam a cuidar dos rios.

Se em vez de observar os peixes, gosta da arte de os pescar, Mora é o sítio certo: tem duas das melhores pistas de pesca desportiva do mundo. Podíamos continuar por aqui, não podíamos? Mas Coruche já está à nossa espera.

km 495

Coruche, na capital mundial da cortiça

Chegados a Coruche, ao quilómetro 495, invadem-nos as cores do montado, dos campos agrícolas e do rio. Na sede de um dos maiores concelhos de Portugal, no distrito de Santarém, caminha-se por milénios de história e séculos de tradições que persistem.

Abundante em recursos naturais, o Vale do Rio Sorraia testemunha a ocupação humana desde o Paleolítico, afirmando-se com o dealbar da agricultura e da sedentarização das antigas sociedades camponesas. Adentrámos neste passado cheio de valor arqueológico, ao visitar o Conjunto Megalítico de Coruche, composto por cerca de trinta monumentos, entre os quais a Anta do Vale Beiró.

Também os romanos e os mouros aqui deixaram as suas marcas, tendo a sua localização assumido particular importância depois de D. Afonso Henriques ter conquistado Coruche, em 1166.

Uma visita ao Museu Municipal de Coruche, onde está o sino mais antigo de Portugal (século XIII), e ao centro histórico com o seu pelourinho, símbolo da autoridade municipal e do poder concelhio, é indispensável. A arquitetura das casas, das inúmeras igrejas e de edifícios como o Observatório do Sobreiro e da Cortiça ou o Núcleo Rural de Coruche revela excertos da alma coruchense. E tudo casa na perfeição com os murais de arte urbana espalhados pelas ruas e escadarias da vila e com as árvores de cores na praça do pelourinho, numa perfeita simbiose entre o passado e o presente. À saída da vila ribatejana, junto às pontes metálicas, encontra-se a ponte da Coroa, construída em 1828 e que permite, até hoje, passar sobre uma das zonas mais perigosas do rio: o Pego das Armas.

Ao ar livre e à mesa

Dos passeios ribeirinhos aos longos percursos pedestres, dos mergulhos na praia fluvial do Sorraia às vistas do miradouro de Nossa Senhora do Castelo, não falta o que fazer em Coruche. Nem o que comer, pois a gastronomia ribatejana é uma verdadeira perdição: pratos confecionados com carnes bravas de toiro e vitela, peixes do rio, arroz, pinhões e outros produtos da terra.

Ao longo da Nacional 2 as boas surpresas têm sido uma constante. Concelho após concelho, somos recebidos de braços abertos e despedimo-nos de coração cheio. Com mais quatro carimbos no passaporte, terminamos este episódio, já de olho nos próximos destinos: Montemor-o-Novo, Viana do Alentejo, Alcáçovas e Torrão. Até já.