Presente em todas as mochilas das crianças, não há quem não conheça o icónico tubo de cola amarelo com letras pretas. Mas a UHU, uma marca com 90 anos de existência, cola muito mais do que papel, estando presente no mercado da papelaria, da bricolage e profissional da construção.
Publicado em 09 de Setembro de 2022 às 17:00 | Por Cofina Boost Content
3.000 milhões de euros é a faturação anual do Bolton Group, ao qual pertence a UHU
A cola UHU nasceu em 1932 pela mão de August Fischer, um engenheiro químico que, em 1905, tinha comprado uma pequena fábrica de produtos químicos, a Ludwig Hoerth, em Bühl, na Floresta Negra Alemã.
Fisher desenvolveu a primeira cola do mundo à base de resina sintética, transparente e pronta a usar. Colava todos os materiais conhecidos até então, de forma fiável, e até mesmo os primeiros plásticos, que começavam a aparecer. Na época, a indústria do papel e de material de papelaria dava nomes de aves aos seus produtos. Então, Fischer escolheu o nome UHU, associado a uma ave de rapina habitante da Floresta Negra, o bufo, ou mocho-real, para batizar o tubo de resina transparente que se tornou num dos artigos mais conhecidos a nível mundial, presente em mais de 125 países.
Muitos anos depois de ser criado, no início da década de 1980, o produto chega a Portugal. José Luís Raposo, diretor-geral e gerente da UHU Ibérica Adesivos, conta que, nessa época, a UHU “era importada por um importador independente, a par com várias marcas para a área da papelaria. Mas o reconhecimento na área escolar, nos anos de 1990, levou à decisão da abertura de uma filial. Na altura, o grupo detentor da marca UHU (o Bolton Group) acabava de comprar uma marca da área da bricolage (Bison, Países Baixos) e perspetivava-se a fusão das duas empresas de colas, num futuro próximo”.
O Bolton Group (BG), uma multinacional nascida em Itália em 1949, adquiriu a marca UHU em 1991. José Luís Raposo descreve o grupo como “muito forte”, com uma faturação anual de mais de 3.000 milhões de euros. “A Divisão Bolton Adhesives, na qual está integrada a UHU, é apenas uma das cinco que compõem o portefólio do BG, todas na área de produtos de consumo (as restantes são alimentar/conservas de atum, higiene caseira, higiene pessoal e cosmética). As fábricas são todas na Europa – Itália, Alemanha e Países Baixos – e a solidez financeira é grande, o que permite ao grupo estar sempre atualizado tecnologicamente”, revela o diretor-geral da UHU. Contando que o Bolton Group tem crescido, José Luís Raposo refere que “ao longo dos anos, o BG tem sempre demonstrado a sua vontade e capacidade de crescer, muitas vezes através de aquisições cirúrgicas e em nichos de mercado”.
As fábricas são todas na Europa e a solidez financeira é grande, o que permite ao grupo estar sempre atualizado tecnologicamente.
“Sempre investindo em fábricas modernas e em comunicação dos produtos/marcas que vai lançando. E sempre com o propósito de acrescentar valor ao mercado e tornar o grupo mais forte. Nunca perdendo a consistência, não aspirando a ser o maior do mundo em tudo, e sempre pondo os recursos humanos em primeiro lugar, considerando-os um dos pilares mais importantes do grupo. Nesta vertente de recursos humanos, o Bolton Group (e a UHU) tem vindo a modernizar-se através de um plano de renovação de alguns quadros e, essencialmente, investindo na formação dos já existentes”, explica.
Sendo uma empresa que coloca as pessoas em primeiro lugar, o Bolton Group apoia não só os seus colaboradores, mas também as comunidades com as quais trabalha, e faz questão de fornecer produtos de alta qualidade, inovadores e sustentáveis, aos consumidores das suas marcas. Este apoio é também alargado ao ambiente, através da criação de ações orientadas para a sua proteção.
Tendo definido a sustentabilidade como um dos seus pilares futuros, o Bolton Group tem em curso “um programa completo, desde o aprovisionamento das matérias-primas até à sua venda e comunicação no mercado”. “Inclusivamente, nos últimos anos, comprou uma das maiores empresas de pesca no oceano Índico, de modo a participar na sustentabilidade das pescas a nível mundial. Há dois anos, comprou uma empresa nos Estados Unidos da América, líder no atum sustentável e que, por sinal, pertencia a um português açoriano”, recorda.
A Bolton Adhesives, à qual pertence a UHU, também adotou o programa de sustentabilidade do Bolton Group. De nome We Care, o programa baseia-se em três pilares. O primeiro é o aprovisionamento, para a aquisição e uso de recursos e matérias-primas sustentáveis. Garante o fornecimento e a utilização sustentável de recursos e matérias-primas naturais e promove relações com fornecedores que operam de acordo com um modelo de negócio sustentável. Atuando em conformidade com a Política sobre Direitos Humanos do Bolton Group, é garantida uma total transparência e rastreabilidade dos produtos, assim como a proteção dos direitos humanos em toda a cadeia de abastecimento.
A produção é o segundo pilar deste programa de sustentabilidade. O grupo implementou uma abordagem circular, de modo a reduzir o impacto ambiental das suas fábricas, limitando as emissões e o consumo de materiais e energia, e reduzindo o desperdício.
O terceiro pilar passa pelas pessoas. Como explicou o responsável da UHU, as pessoas são muito importantes para este grupo e essa importância é demonstrada pelo apoio na formação aos trabalhadores, assim como pelo zelo do seu bem-estar, o fornecimento de produtos cada vez mais sustentáveis para o consumidor e, por fim, o trabalho para comunidades com projetos que apoiam a investigação científica, o ambiente e a cultura.
Todavia, a sustentabilidade fica mais difícil de conseguir na área dos químicos, na qual opera o Bolton Adhesives. Apesar de os objetivos serem mais difíceis de alcançar, pela sua complexidade, o diretor-geral da marca enumera alguns, como as “embalagens recicladas, recicláveis e com a menor quantidade de plástico possível, produções conseguidas com 100% de energias renováveis, desperdícios zero e acidentes de trabalho no limiar do zero”.
José Luís Raposo conta também que na área da papelaria/escolas já têm produtos sustentáveis “há mais de oito anos”. “Exemplifico o Stic ReNATURE, cujo corpo da embalagem é feito da cana-de-açúcar. A cola é totalmente constituída de ingredientes naturais (a partir do amido de uma batata especial) e as embalagens secundárias são de cartão reciclado”. O UHU Stic ReNATURE foi, aliás, o primeiro stic de cola do mundo com uma embalagem feita a partir de matérias-primas. Comparado com um stic de cola convencional, a UHU explica que isto “significa uma redução de 46% das emissões de CO e uma redução de 48% do uso de combustíveis fósseis (calculado por denkstatt, Viena)”.
O corpo da embalagem do UHU Stic ReNATURE é feito da cana-de-açúcar. A colaé totalmente constituída de ingredientes naturais e as embalagens secundárias são de cartão reciclado.
A gama de produtos ReNATURE da UHU é reconhecida pelo seu esforço na preservação do ambiente. Tanto a fórmula como as embalagens são produzidas a partir de recursos naturais, ajudando à proteção ambiental, e depois de ter sido repetidamente premiada como Green Brand, foi galardoada com a Green Brand Label Germany, um selo de qualidade atribuído pela organização GREEN BRANDS a marcas que, comprovadamente, contribuem significativamente para a conservação do clima, do ambiente, da natureza, da biodiversidade e dos recursos.
Em Portugal, também são realizadas ações que estão em linha com o posicionamento do grupo, como o patrocínio do Programa Escolar Eco-Escolas, um programa internacional da Foundation for Environmental Education, desenvolvido em Portugal, desde 1996, pela ABAE, a Associação Bandeira Azul da Europa, e que pretende encorajar ações e reconhecer o trabalho de qualidade desenvolvido pela escola, no âmbito da Educação Ambiental para a Sustentabilidade.
As escolas são o berço da UHU. Foi nelas que tudo começou, quando a UHU entrou para fazer parte das atividades das crianças, e foi assim que relação forte se consolidou. A confiança do consumidor, conta José Luís Raposo, foi a base para o reconhecimento da qualidade da cola e que transmitiu também bastante segurança ao mercado. “É a chamada publicidade na raiz.” Mas o que começou por ser o fator que permitiu à marca crescer, a determinada altura tornou-se um desafio a ultrapassar, uma vez que a UHU “era vista exclusivamente como uma marca de colas para crianças, eventualmente não suficientemente forte e resistente”, conta o diretor-geral. Assim, apresentar outros produtos, primeiro na área da bricolage e depois na área da construção, implicou ultrapassar muitas e muito altas barreiras. E se em 1998 começaram por estender a gama de papelaria a outros produtos que não colas (como corretores e fixadores), em 2000 lançaram a primeira gama de bricolage.
Em 2014, foi apresentada a área de limpeza profissional através do removedor de fungos e bolores, que é “atualmente o líder de mercado”. Em 2018, foi lançada a marca GRIFFON, exclusivamente dedicada ao mercado profissional das canalizações. Atualmente, está a desenvolver-se “um projeto em exclusivo para a área profissional da construção”. “É a consequência natural da evolução papelaria – bricolage – profissional. Somos a única empresa em Portugal que está nestes três mercados.” Porém, para o conseguir, o caminho foi longo e com entraves.
O negócio será certamente promissor na medida em que existe uma estratégia muito consistente e sólida, há muitos anos.
“Primeiro o trade/comércio, que não acreditava e que prefere a comodidade e a continuidade. Foi um trabalho árduo de persistência/resiliência, demonstrações/experimentação e sempre com uma aproximação muito profissional. Passo a passo, canal de distribuição a canal de distribuição, cliente a cliente e muita dedicação. Depois, o consumidor: comunicar, demonstrar, experimentar.” E assim se foi fazendo um percurso que já vai longo e cada vez mais consolidado.
Presente nos três mercados, de papelaria, bricolage e profissional, a UHU tem confiança no que será o seu futuro. O diretor-geral considera que “o negócio será certamente promissor na medida em que existe uma estratégia muito consistente e sólida, há muitos anos, e um constante pipeline de produtos e mercados que o alimentam”. “Os produtos de consumo são um mercado sempre aliciante e em permanente evolução. Requerem muita análise e observação dos hábitos de consumo, seja o consumidor particular ou o profissional. Além disso, a nossa presença forte nos vários canais de distribuição oferece sempre um vasto leque de soluções estratégicas”, assegura.
Prova disso foi o que aconteceu na altura do confinamento devido à pandemia de covid-19: “Tendo em conta que todas as escolas fecharam, virámo-nos imediatamente para a área dos produtos de bricolage e também de limpeza. No final, o balanço até acabou por ser positivo. Fomos o único país na Divisão Bolton Adhesives que cresceu em 2020”, conta, orgulhoso, José Luís Raposo.
Regressar à Página Inicial