É a maior adega cooperativa de Portugal em volume de faturação e uma marca incontornável no mercado vitivinícola. A Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões tem uma história notável, que começa com um grande proprietário e filantropo, passa pelo maior projeto de colonização interna do Estado Novo, e está, desde o início do século XXI, empenhada num notável esforço de modernização, qualificação e crescimento.
Publicado em 29 de Julho de 2022 às 17:00 | Por Cofina Boost Content
- Fundada em 1958;
- Fábrica em Pegões Velhos;
- 12 milhões de Litros / ano
- 100 colaboradores
- 98 associados
- Exportações são 30% da faturação - 24 milhões de euros em volume de negócios (2021)
Já foram galardoados com mais de mil prémios, tanto nacionais como internacionais. O reconhecimento aos vinhos da Adega de Pegões chega dos mais diversos países e continentes e de tão longe como, por exemplo, a China. Deste país recebeu recentemente uma dupla medalha de ouro, para o Vinho Português do Ano, no China Wine and Spirits Awards – Best Value 2022, com o vinho Adega de Pegões Colheita Selecionada Branco 2020. Também este ano, desta feita em França, no Challenge International du Vin 2022, o vinho Adega de Pegões Touriga Nacional Tinto 2018 foi premiado com uma medalha de ouro.
Os reconhecimentos não se ficam apenas pelos produtos e estendem-se também à empresa: no Berliner Wein Trophy 2022, na Alemanha, a Adega de Pegões foi eleita como a Melhor Adega Cooperativa Portuguesa. Para Mário Figueiredo, presidente da direção da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, ganhar prémios é um incentivo a “continuar com o caminho percorrido ao longo destes anos, e é um orgulho para Portugal e para a região de Pegões”.
O que têm estes vinhos para serem tão premiados e, sobretudo, tão apreciados? “O segredo são mesmo as uvas de Pegões, que se destacam.” A explicação é dada por Jaime Quendera, enólogo e gerente da Adega de Pegões desde 1994. “Temos um clima e solo únicos, basta dizer que as vinhas criam raízes onde há milhões de anos era mar.” Situada entre duas reservas naturais, a do estuário do Tejo, a noroeste, e a do Sado a sudoeste, a região de Pegões apresenta condições edafoclimáticas privilegiadas. Pegões localiza-se numa mancha de solo plano denominada por “Pliocénio de Pegões”, caracterizada por um solo arenoso, formado ao longo de milhões de anos pelo depósito das areias transportadas pelos rios Tejo e Sado, que é pobre em nutrientes, mas rico em termos de água. No entanto, há outro aspeto muito relevante a ter em conta: apesar de se localizar mais a sul de Portugal, onde há mais calor, a proximidade do mar ajuda bastante a amenizar o clima, impedindo que o calor seja extremo, e propicia a um bom amadurecimento das uvas. E, como diz Jaime Quendera, “uvas boas dão vinho bom, desde que se tenha tecnologia e know-how. Esse é o segredo.”
Tecnologia é algo que não falta em Pegões. Nos últimos 15 anos, a cooperativa tem vindo a investir na modernização, tanto das instalações como dos seus equipamentos e sistemas. O objetivo foi melhorar e valorizar os vinhos e a marca, e o investimento para o atingir rondou os 25 milhões de euros. Assim nasceu uma nova forma de trabalhar, quando foram implementados na adega sistemas de vinificação e estabilização a frio, um complexo de cubas de inox para fermentação com controlo de temperatura, assim como linhas de enchimento e rotulagem modernas, e caves para estágio de vinhos com mais de 3000 barricas. Neste contexto, a renovação da ETAR, assim como as obras de beneficiação e conservação geral dos edifícios, e a pavimentação dos acessos fabris, também fizeram parte da remodelação geral da cooperativa. Em termos de organização interna, a informatização da empresa acompanhou as novas tecnologias que ali foram implementadas.
A quantidade de vinho produzida pode ser grande, mas de nada vale se o produto não tiver qualidade. E esse tem sido o grande objetivo desta cooperativa desde sempre. Sob o lema “só a qualidade leva à excelência”, a Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões pretende ser reconhecida pela qualidade dos seus produtos. Para esta casa, é devido a este fator “que são adquiridos novos clientes e é aumentada a fidelização dos já existentes”. Nesse sentido, em 2001, começaram o trabalho para cumprir todos os pré-requisitos necessários para obter a certificação do Sistema de Gestão de Qualidade, que foi concedido dois anos depois, em 2003, pela APCER, a Associação Portuguesa de Certificação. Qualidade certificada que assegura ao consumidor que tudo é produzido da forma mais segura possível. Porque, para a Adega de Pegões, o consumidor é o mais importante. Assim se explica a imensa diversidade de vinhos que são produzidos, desde espumantes a moscatel, passando por brancos, tintos e rosé, com uma enorme variedade de preços, que agradam a todas as carteiras, sempre sem descurar o sabor e a qualidade. E é essa relação qualidade/preço que tem determinado a contínua ascensão da Adega de Pegões no mercado internacional mas, sobretudo, no mercado português.
Ganhar prémios é um incentivo a continuar o caminho percorrido ao longo destes anos, e é um orgulho para Portugal, e para a região de Pegões.
Sendo esta uma casa com 64 anos, é importante perceber quais as características que levaram à sua longevidade. O enólogo Jaime Quendera refere que há uma característica, que é a base de todas as outras: “Produzir vinhos que sejam apreciados, e que tenham um preço justo. O consumidor, em especial o português, sabe muito de vinho. Se o defraudamos, perdemos a nossa ‘base’, e aí a longevidade estará comprometida.” Vem dessa convicção uma postura de “procura constante por novos mercados e de investimento constante nos que já trabalhamos”. A “criação de novos produtos” também faz parte do dia a dia desta empresa que, com mais de meio século, tem crescido sustentadamente. Mas nem sempre foi assim. Quem vê o atual portefólio de vinhos, e as dimensões impressionantes de Pegões, com uma área vinícola de 1.200 hectares, que produzem em média 13.000 toneladas de uva, e 17 milhões de garrafas por ano, não imagina que tudo começou do zero, com a plantação de 800 hectares de vinha em meados do século passado.
Tudo começou com José Rovisco Pais (1862-1932), um grande proprietário rural e conhecido industrial, além de filantropo. Foi benemérito dos Hospitais Civis de Lisboa, assim como da Maternidade Alfredo da Costa, para a qual contribuiu permitindo a conclusão da sua construção. José Rovisco Pais foi proprietário da Fábrica de Cerveja da Trindade, que deixou em testamento à Misericórdia. As herdades que possuía em Pegões, e que também foram incluídas no seu testamento, foram dadas aos Hospitais Civis de Lisboa. Nestas herdades, José Rovisco Pais ainda iniciou um projeto de colonização das terras, mas este só viria a ser executado em pleno, pelo Estado Novo, após a sua morte. Tratou-se do maior projeto de colonização interna feito em Portugal, com a fixação de centenas de casais agrícolas e a plantação de hectares de vinha e de produtos frutícolas e hortícolas. Pessoas oriundas de todo o país foram viver para o Colonato de Pegões, onde tinham casa, e trabalhavam nas terras.
Neste contexto, em 1958, no dia 7 de março, foi constituída a Cooperativa Agrícola, que forneceu apoio técnico e logístico à elaboração dos primeiros vinhos de Pegões. Mas, com o 25 de Abril de 1974, viveram-se períodos, como refere o enólogo Jaime Quendera, marcados por uma “grande incerteza e muita instabilidade, ainda mais porque a Adega de Pegões pertencia ao Colonato de Pegões, que era do Estado português na altura”. A situação económica da cooperativa foi-se degradando e, no final dos anos oitenta, início da década de noventa, “a adega estava muito mal, não havia dinheiro, muito poucas uvas, as vendas eram baixíssimas, e tinha de se investir, senão fechava-se. A cooperativa esteve muito perto do fim”, conta Jaime Quendera.
O segredo são mesmo as uvas de Pegões, que se destacam. Temos um clima e solo únicos, basta dizer que as vinhas criam raízes onde há milhões de anos era mar.
Foi nessa altura que chegou à Cooperativa Mário Figueiredo, que se mantém até hoje como presidente da direção. O caminho sob a sua direção foi longo mas, nos últimos 15 anos, explica o enólogo e gerente, “Pegões sofreu uma revolução técnica, na maneira de fazer vinho, na forma de vinificar. A nível comercial também muita coisa mudou. Em 2001 era ainda uma adega pequena, que faturava cerca de 1 milhão e meio, ou dois milhões de euros por ano. Atualmente fatura 24 milhões e é a maior adega cooperativa de Portugal.”
Assim se chegou a março de 2020, depois de um ano de 2019 muito bom, e um início de ano 2020 ainda melhor. Foi quando “as vendas caíram abruptamente”, conta Jaime Quendera. A pandemia de covid-19 tinha chegado a todo o mundo, assim como as diversas medidas sanitárias que implicou. O enólogo relembra “tivemos de fechar departamentos e de criar turnos mais pequenos, tivemos grandes contingências. Até nos adaptarmos foi complicado.” Mas foi apenas uma questão de tempo. A Adega de Pegões já estava presente na chamada distribuição moderna, ou seja, nos súperes e hipermercados, e, explica o enólogo, “deu-se uma mudança radical de hábitos: a pandemia enfiou as pessoas em casa, a consumir o que estava à venda no supermercado”. Assim, a Adega de Pegões apostou mais nesse canal e conseguiu colmatar as perdas sentidas pelos fechos dos hotéis e restaurantes. O ano de 2020 conseguiu, assim, terminar com um número de vendas inferior em apenas 3%, ao número alcançado no ano anterior.
Em 2001, Pegões era ainda uma adega pequena, que faturava cerca de 1 milhão e meio, ou dois milhões, de euros por ano. Atualmente, fatura 24 milhões e é a maior adega cooperativa de Portugal.
Com a adega a exportar para mais de 40 países, as quebras de vendas variaram conforme a zona do mundo. Os mercados asiáticos foram os que mais caíram, com quebras superiores a 50%. No entanto, outros mercados cresceram e ajudaram a compensar, como foi o caso dos mercados norte-americano e canadiano. Na Europa Central (Alemanha, Inglaterra, Holanda e Bélgica), também se sentiram quebras relevantes, mas também essas foram parcialmente compensadas pelos crescimentos de vendas na Polónia e na Suécia.
Para o futuro, Jaime Quendera revela que a internacionalização dos vinhos “é um dos maiores desafios, sendo que estamos a apostar cada vez mais no mercado externo, em quantidade e em qualidade”. A adega tem um portefólio adaptável em função das características do mercado: “Diferenciamos consoante as regiões para onde vendemos. Não é a mesma coisa exportar para as Filipinas, para a China, para o Japão, ou para Inglaterra”. Jaime Quendera explica que, na adega, o processo de criação é contínuo, “o que leva não só a novos produtos, mas também à perda de continuidade de outros”. Assim, para os próximos 64 anos, o enólogo fala por aquela que é a sua segunda casa: “O que esperamos, e trabalhamos para isso todos os dias, é que a Adega de Pegões continue no caminho do sucesso e a crescer. É sinal da criação de riqueza para todos, e principalmente para a região.”
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