Inclusão Social
“O café da alegria transforma vidas”
Publicado em 15 de Março de 2023 às 09:01
O Café Joyeux é um espaço único no País que emprega colaboradores com dificuldades cognitivas. Liderado por Filipa Pinto Coelho, presidente da Direção da Associação VilacomVida, conta com o apoio da Fundação Santander Portugal. Durante a nossa visita, conhecemos David e José, dois colaboradores que se sentem realizados por fazer parte do projeto.
Na Calçada da Estrela número 26, em Lisboa, encontramos o Café Joyeux, que abriu portas em 2021 a defender a “troca de olhares com a diferença”. Importado de França, o conceito rapidamente se tornou um sucesso em Portugal. É um espaço onde colaboradores com trissomia 21 e outras perturbações cognitivas têm a oportunidade de trabalhar e ser valorizados.
Dois anos depois, o Café Joyeux está quase a inaugurar o terceiro estabelecimento e continua a formar e a empregar talentosos colaboradores, enquanto promove a inclusão social.
Café Joyeux “com todos”
Este projeto inclusivo e aberto ao público, em geral, chegou a Portugal com a missão de aumentar a formação e a empregabilidade de pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento, como a trissomia 21 e perturbações do espectro do autismo, entre outras. Como nos diz Filipa Pinto Coelho, “o conceito de qualidade, centralidade e inclusão tornam-no um projeto único no nosso país”.
Desde a abertura do café, a resposta do público tem sido muito positiva. “O feedback tem sido fantástico a todos os níveis, porque é uma porta aberta para um espaço muito agradável que proporciona um serviço com o coração, produtos de qualidade e uma simpatia natural”.
Para levar a sua missão ainda mais longe, o projeto oferece serviços complementares como os caterings para empresas ou as opções de produtos de oferta. Atualmente, tem também um serviço de grãos e cápsulas de café solidárias.
Tudo o que se vende no Café Joyeux vai contribuir para abrir mais estabelecimentos da marca e criar mais postos de trabalho. Esta é, sem dúvida, uma iniciativa win-win: para os colaboradores, para as empresas e para todos os clientes – ou convivas, como são carinhosamente apelidados – que vivem ali bons momentos e se sentem protagonistas desta mudança positiva de paradigma.
Uma energia contagiante
A alegria da equipa reflete o espírito e a missão do Café Joyeux, representados pela luminosa cor amarela que é a sua imagem de marca. Além de uma boa equipa, formou-se uma espécie de família, onde todos se ajudam uns aos outros. Uma energia única que é transmitida para quem visita o espaço.
David, um dos colaboradores, com 28 anos e mestre no atendimento ao cliente, explica a sua motivação: “A minha maior satisfação é que os clientes se sintam em casa, voltem e que os colegas gostem do meu trabalho”. E prossegue: “Espero trabalhar no Café Joyeux durante muitos anos. Sou mais feliz agora. Estamos aqui para servir com o coração.”
José, outro colaborador do Café Joyeux, com 25 anos, passou da cozinha para a sala e também gosta de trabalhar nos eventos e no catering. Sorridente, enaltece a alegria e a importância deste projeto para a sua vida: “Nas fases boas e más eles ajudaram-me sempre e puxaram por mim. Vim para aqui ser “joyeux”, que é fazer os clientes sentirem-se bem, felizes e em casa. Consigo fazer o meu trabalho com alegria.”
“Somos empresários em nome de uma missão”
Muitos dos obstáculos à integração destes jovens estão relacionados com a falta de oportunidades. A verdade é que contratá-los “não se trata de um sinal de solidariedade social, mas um sinal de inteligência”, observa Filipa Pinto Coelho.
Estamos a falar de pessoas que, vivendo com uma perturbação do desenvolvimento intelectual, têm uma capacidade real para trabalhar e podem ser úteis a vários níveis, numa equipa e nas empresas. Nesse sentido, “em vez de falar das dificuldades que existem, estamos a falar de capacidades, estamos a falar de talentos”.
A integração dessas pessoas valoriza as suas capacidades e a sua importância na sociedade, acrescentando mais valor às empresas que as contratam. Essa é a força inspiradora do projeto, que tem como objetivo responder a um espaço deixado vazio pela sociedade.
“Lançar um Café Joyeux é um desafio porque temos de investir, mas é uma boa resposta e dá o exemplo. Temos esperança que apareçam mais e mais projetos a beber desta experiência e a fazer dela uma realidade de não exclusão – em vez de inclusão. Nós queremos que não se exclua, ao começarmos a falar de não exclusão estamos no caminho certo”.
Café Joyeux & Fundação Santander
A Fundação Santander Portugal esteve presente no Café Joyeux desde o projeto piloto Café com Vida. “Foi a Fundação Santander Portugal que nos atribuiu o nosso primeiro prémio. Desde o início até hoje, continua ao nosso lado. É muito bom para nós ter um parceiro que acredita connosco e nos faz crescer”, destaca a presidente da Direção da Associação VilacomVida.
A expansão do Café Joyeux
O projeto tem vindo a multiplicar-se e com ele os postos de trabalho. Além do café de São Bento, que emprega seis colaboradores, outros em formação e vários potenciais, já existe outro Café Joyeux no Edifício da Ageas Seguros Portugal, em Lisboa, onde estão sete colaboradores – e, em breve serão oito. Num curto espaço de tempo, serão contratados entre 12 a 14 jovens para o novo espaço que vai abrir em Cascais.
O modelo de formação inclusiva, com processos criados para facilitar a aprendizagem e o processo de autoestima, é uma das razões para o Café Joyeux estar mais preparado para contratar um maior número de pessoas com dificuldades intelectuais do que outros estabelecimentos. Todavia, “se cada café, restaurante ou empresa deste país tivesse pelo menos uma pessoa contratada com estas dificuldades a mostrar que é capaz, já teríamos feito um caminho excecional”, afirma Filipa Pinto Coelho. “Quanto a nós, temos essa missão e vamos atrás dela até ao fim.”
O futuro será a expansão da rede Joyeux em Portugal. “Recebemos cada vez mais pedidos de famílias – as pessoas sentem-se mais desafiadas a dizer ‘sim, eu sou capaz’, ‘o meu filho pode ter um trabalho’, ‘aqui vai fazer um caminho’ – e dos próprios parceiros que trabalham connosco”, afirma a líder do projeto.
Um projeto inovador e sustentável
“O nosso objetivo é conseguir pagar os custos desta operação através da venda dos nossos produtos e serviços: catering, merchandising, refeições, café solidário em grãos e cápsulas. Todavia, existe a componente de formação, porque apostamos em pessoas que saem da escola e que precisam de adquirir uma série de conhecimentos, soft skills e competências técnicas para poderem ser colaboradores polivalentes no setor da restauração”, afirma Filipa Pinto Coelho.“Este é um modelo que exige expertise técnico, para que possam fazer aulas teóricas, além da formação prática em contexto de trabalho”, acrescenta. O projeto é sustentável: “O investimento social que angariamos ajuda-nos a fazer face a esta componente da formação, enquanto o lado operacional paga a renda, os salários, as máquinas, as matérias-primas dos produtos que compramos, água e eletricidade”.
Uma gestão que está no bom caminho. “No Café de São Bento, já houve muitos meses em que não precisámos de apoio do investimento social da associação Vila comVida, que é quem detém este negócio”, conclui.