Esta será a 21ª edição de Braga Romana, especial este ano por decorrer integrada na programação da Capital Portuguesa da Cultura. Ana Ferreira, chefe de gabinete do presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, destaca os pontos altos de uma iniciativa ímpar e de grande “envolvimento comunitário”.
Como surgiu esta iniciativa há 21 anos e o que justificou celebrar, dessa forma, a herança romana de Braga?
A Braga Romana celebra os tempos áureos do período romano e convida os visitantes a embarcar numa viagem fascinante pelas ruas, praças e espaços musealizados. Mais do que uma simples celebração do passado, a Braga Romana é um tributo à História, à cultura e à identidade de Braga e apresenta-se como um evento cultural de grande envolvimento comunitário, proporcionando ao público um contacto profundo com a memória da civilização romana em Braga. Esta iniciativa, como refere, vai para a sua 21.ª edição, pois entendeu dar a conhecer, mais em pormenor, este período da nossa História. O evento ao longo destas edições foi crescendo, foram realizados alguns estudos científicos, que nos permitem hoje conhecer ainda melhor este período.
Que impacto pedagógico tem tido esta iniciativa junto da comunidade educativa?
Este evento tem grande impacto na comunidade educativa, pois tornou-se parte integrante do calendário escolar, envolvendo anualmente milhares de crianças e jovens em atividades pedagógicas que recriam a vida quotidiana romana. As escolas participam na sessão de abertura, que conta com mais de três mil crianças. Na sexta-feira à noite, participam no Cortejo Triumphalis, que percorre várias artérias da cidade. São 163 atividades pedagógicas: aulas de língua latina, escrita cursiva e história; exposição de artes e ofícios; visitas e percursos encenados; teatros de marionetas; oficinas de construção de máscaras greco-romanas; oficinas de arqueologia experimental; encenações; oficinas de cerâmica e tesselas; oficina de danças; fábulas; jogos romanos e workshops de instrumentos musicais. Estas atividades promovem uma aprendizagem ativa e lúdica sobre a História, incentivando a participação das escolas em oficinas, encenações e cortejo. São mais de 38 visitas guiadas que percorrem os principais vestígios da antiga Bracara Augusta, permitindo aos participantes compreender melhor o legado romano da cidade, de forma envolvente e acessível.
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Durante cinco dias, mais de 72 horas de programação de Braga Romana distribuem-se por cinco palcos e 13 áreas cenográficas.
Qual vai ser o tema da edição de 2025 de Braga Romana e em que locais vai decorrer?
A Braga Romana não segue um tema único, mas mantém-se fiel à sua essência enquanto verdadeira aula viva de História. Este ano continuaremos a dar vida aos ritos e rituais da época romana, desde as encenações do Rito Fundacional de Bracara Augusta; a celebração do ritual do casamento romano, do batizado e funeral, envolvendo o público na vivência romana. Grupos de dança e música ancestral, bem como workshops de arqueologia experimental, reforçam essa dimensão pedagógica e sensorial. O evento terá lugar no centro histórico da cidade, dentro do perímetro da antiga muralha romana da cidade de Bracara Augusta, zonas que ganham nova vida com a recriação do quotidiano de há dois mil anos.
Que divindade romana é homenageada este ano na cerimónia de abertura?
Na cerimónia de abertura, no ano passado, prestou-se tributo à deusa Nabia, deusa representada na nossa Fonte do Ídolo. Este ano, voltamos a homenagear a deusa Flora. Símbolo do eterno renascimento da primavera, a deusa Flora, uma antiga divindade, era celebrada pelos romanos com grandes festividades conhecidas como Ludi Florei ou Florália. Essas celebrações enchiam as ruas de cor e perfume, com multidões adornadas com grinaldas de flores, dançando e lançando pétalas.
Braga Romana é um dos pontos altos da programação da Capital da Cultura. De que forma é que esta iniciativa catapultou o nome de Braga a nível internacional?
O evento Braga Romana, como um dos destaques da programação de Braga enquanto Capital Portuguesa da Cultura, tem sido essencial para aumentar a visibilidade da cidade a nível internacional. O património histórico de Bracara Augusta, evidenciado neste evento, atrai um público universal e põe Braga no centro de um diálogo cultural europeu e mundial. Com uma programação diversificada, incluindo eventos artísticos e colaborações internacionais, Braga tem criado um ambiente único de intercâmbio artístico, com a presença de grupos internacionais de teatro, música e dança. A iniciativa também tem impulsionado o turismo cultural, atraindo visitantes de várias partes do mundo para uma experiência imersiva na história da cidade, reforçando a imagem de Braga como uma cidade culturalmente dinâmica.
Brácara Augusta: 2040 anos de História
Que novidades destaca nesta 21ª edição?
Na 21ª edição deste evento, destacam-se novas iniciativas, especialmente por coincidir com o ano em que a cidade acolhe a Capital Portuguesa da Cultura. Um dos principais destaques é a instalação interativa “Legado de Bracara: Os Legionários”, no Largo D. João Peculiar, que através das media arts vão transportar os visitantes à antiga Bracara Augusta, permitindo-lhes viver o quotidiano da cidade romana, com projeções interativas, efeitos visuais e sonoros. Como cidade criativa da UNESCO no domínio das media arts, Braga reafirma o seu compromisso com a inovação cultural ao combinar história e tecnologia. Outro grande destaque é a exposição “Bracara Augusta. 2040 anos de História”, que estará patente no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa até 25 de maio. A exposição explora o legado romano da cidade, desde a sua fundação até se tornar capital da província da Gallaecia, com uma abordagem imersiva sobre a vida quotidiana em Bracara Augusta. Estas novidades refletem o dinamismo cultural de Braga e a sua capacidade de unir inovação tecnológica e património histórico, tornando-se um ponto de atração para públicos locais e internacionais.

Voltarão a fazer uma cerimónia com 3 mil crianças na Praça Municipal, haverá teatro clássico pela Companhia de Teatro de Braga como na edição anterior, bem como oficinas de cozinha nas quais se recriam os ambientes das cozinhas romanas?
Este ano, a cerimónia de abertura homenageia a deusa Flora, como referi, símbolo do renascimento da primavera, com uma celebração inspirada nas antigas festividades romanas Ludi Florei. As crianças da cidade participarão simbolizando campos e jardins floridos, dando início às festividades e recriando a magia da Florália em Bracara Augusta. Após o sucesso das oficinas de cozinha romana, a edição deste ano aposta em 10 oficinas de arqueologia experimental, permitindo aos participantes explorar a cultura material da Roma Antiga. Através de atividades práticas, poderão recriar artefactos históricos e aprender sobre as técnicas, materiais e simbolismo dos objetos romanos, aprofundando o conhecimento sobre o quotidiano e a estética dessa civilização. Além disso, Braga receberá grupos internacionais focados na dança e música ancestral da Roma Antiga, enriquecendo ainda mais a programação cultural com performances autênticas que transportam o público diretamente para a época romana, celebrando a riqueza e a diversidade das artes da Antiguidade.
Quantas atividades pedagógicas serão promovidas nesta edição e quais?
Nesta edição, serão promovidas mais de 160 atividades pedagógicas que permitem uma imersão profunda na vida de Bracara Augusta. As propostas incluem oficinas de arqueologia experimental, cerâmica, mosaicos, escrita cursiva, poesia latina, dança e instrumentos musicais romanos. O Lyceum Romanum (Área Pedagógica), instalado no Largo de Santiago, será um dos principais focos, proporcionando aos visitantes a oportunidade de aprender técnicas e saberes da Roma Antiga.
O evento oferece ainda 38 visitas guiadas aos principais vestígios da cidade, além de encenações teatrais que reconstituem a lenda de Rómulo e Remo. Os espaços como o Locus Artium et Officiorum (Escola de Artes e Ofícios) e o Vicus Bracarus (Aldeamento Brácaro) possibilitam aos participantes experimentar o quotidiano romano, explorando ofícios tradicionais da época.
Um dos grandes destaques é o acampamento militar, em que os visitantes podem conhecer o quotidiano dos legionários romanos, desde a construção de armamento até aos exercícios e técnicas de combate no acampamento Leg. VI Victrix.

Ana Ferreira, chefe de gabinete do presidente da Câmara de Braga
Quantas horas de programação e de atuação estão previstas?
A Braga Romana apresenta uma programação diversificada que promove o conhecimento do período romano, com encenações de ritos da época, danças, música, o imponente Circus Maximus — um espetáculo que funde tecnologia e memória — e um mercado instalado nas ruas do centro histórico, que recria o ambiente comercial da antiga Bracara Augusta. Durante cinco dias, mais de 72 horas de programação distribuem-se por cinco palcos e 13 áreas cenográficas, proporcionando uma experiência cultural única.
Experiência única
Com uma vasta oferta de atividades, Braga Romana proporciona uma experiência única, permitindo aos participantes vivenciar o legado da Roma Antiga de forma enriquecedora e educativa. Pode consultar toda a programação em https://bragaromana.cm-braga.pt.Quantos visitantes, nacionais e internacionais esperam receber?
Estima-se que este ano se possa ultrapassar os visitantes da edição anterior, 300 mil visitantes, um número que reflete o crescente reconhecimento da Braga Romana enquanto evento de referência nacional e internacional. A ligação à Capital Portuguesa da Cultura deverá potenciar ainda mais essa afluência. É de referir que, no ano passado, fomos abordados por operadores turísticos para saber as datas deste e outros eventos para incluir nos seus roteiros.
Bracara Augusta era uma cidade ativa a nível cultural?
Sem dúvida. Bracara Augusta foi um dos mais importantes centros administrativos e culturais da Hispânia romana. A cidade distinguia-se pela sua intensa vida cívica, religiosa e artística, visível na existência de fóruns, termas, teatro romano e templos — elementos que revelam o grau de sofisticação urbana típico do Império Romano. Hoje, essa vitalidade histórica continua bem presente: iniciativas como a Braga Romana dão nova vida ao património arqueológico e cultural, permitindo que a cidade contemporânea celebre e reflita a sua herança clássica. Acrescentar que Braga contará em breve com mais um espaço arqueológico deste período, pois está em curso a obra de musealização da Ínsula das Carvalheiras.