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Festival Vaudeville Rendez-Vous: arte circense a céu aberto

"La bande à Tyrex" apresenta-se em Guimarães a 16 de julho

Festival Vaudeville Rendez-Vous: arte circense a céu aberto

Publicado em 06 de Julho de 2025 às 09:00

De 16 a 19 de julho, venha assistir a mais de 20 espetáculos gratuitos de circo contemporâneo em espaços públicos de Braga, Barcelos, Famalicão e Guimarães, num festival que é uma referência internacional e integra a programação oficial de Braga, Capital Portuguesa da Cultura 2025

Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães voltam a unir-se para receber mais uma edição do Festival Vaudeville Rendez-Vous, uma iniciativa que tem vindo a consolidar-se como referência nacional e internacional na área do circo contemporâneo e da criação para o espaço público e que já vai na 11.ª edição. Desta vez, integrado na programação de Braga, Capital Portuguesa da Cultura 2025.

Com direção artística de Bruno Martins e Cláudia Berkeley, o festival assume-se como um projeto em rede. “Mais do que descentralizar, promovemos uma nova centralidade construída em rede, em que o circo contemporâneo se afirma como linguagem crítica e comunitária”, explica a direção artística.

A proposta é clara: transformar as quatro cidades do Quadrilátero Cultural do Minho num território cénico partilhado, no qual artistas nacionais e internacionais se cruzam com o espaço urbano e com os públicos locais. “O nosso foco continua a ser o trabalho com os públicos locais — construir uma relação duradoura, exigente e cúmplice”, acrescenta a equipa curatorial. “Mas acreditamos também que o festival pode, e deve, crescer em visibilidade internacional. Esse reconhecimento externo tem um impacto direto no território: projeta-o, valoriza-o e torna-o parte ativa de uma rede cultural mais alargada.”

Festival Vaudeville Rendez-Vous: arte circense a céu aberto
Cláudia Berkeley e Bruno Martins, curadores do Festival Vaudeville Rendez-Vous

Cláudia Berkeley e Bruno Martins, curadores do Festival Vaudeville Rendez-Vous

Mais de 10 companhias nacionais e internacionais

Na sua 11.ª edição, o Vaudeville Rendez-Vous propõe uma programação que gira em torno da ideia de ciclo. Mas não de repetição, avisa a coordenação do festival: “Pensamos o ciclo como rutura, recomeço e reinvenção. Um ciclo que obriga a olhar criticamente para o caminho feito e a abrir espaço para mudar.”

Para a organização, esta nova década do festival é também “uma oportunidade de afirmar a continuidade com o território e ao mesmo tempo manter o festival inquieto, permeável ao inesperado”. E acrescenta: “Queremos continuar a ser um espaço onde se experimentam formas, formatos e ideias, com uma consciência cada vez mais nítida de que os ciclos artísticos são também políticos, sociais e afetivos.”

Ao todo, mais de 11 companhias nacionais e internacionais dão corpo a uma programação que cruza acrobacia, malabarismo, bicicleta acrobática, roda cyr, oficinas, por entre outros, sempre com entrada livre. Entre as companhias convidadas contam-se estruturas vindas da Bélgica, França, Moçambique, Catalunha e Portugal, num alinhamento que aposta fortemente na diversidade estética e na experimentação.

Espetáculos de abertura e estreias nacionais

O festival abre com um dos espetáculos mais aguardados: “La Bande à Tyrex”, um “bailado de bicicleta acrobática” com nove artistas franceses em cena. “Em Portugal, ainda não se produz com esta escala na acrobacia de bicicleta. Trazer este espetáculo é expandir o imaginário do que se pode fazer em circo”, refere a direção artística. Com música ao vivo e uma impressionante coreografia sobre rodas, é uma das grandes apostas da edição.

Segue-se “Ripple”, da companhia belga TeaTime, em que três artistas interagem com uma espiral metálica em movimento constante, criando uma peça hipnótica sobre equilíbrio e causa-efeito. “É uma metáfora visual poderosa: cada gesto reverbera, cada ação tem consequências”, sublinha a coordenação do festival. Também “Une Partie de Soi”, do português João Paulo Santos, regressa ao festival com um solo de mastro chinês que combina força, suspensão e poesia visual num espaço íntimo de contemplação.

Festival Vaudeville Rendez-Vous: arte circense a céu aberto
Show "Masacrade" (Marcel et ses Drôles de Femmes, França" - Recinto da Feira Semanal de Guimarães no dia 17 de julho

Show "Masacrade" (Marcel et ses Drôles de Femmes, França" - Recinto da Feira Semanal de Guimarães no dia 17 de julho

Vozes, corpo e memória

A programação deste ano reforça o compromisso com a diversidade de vozes e geografias. Em “Nkama”, o artista moçambicano Dimas Tivane parte da sua língua materna, o changana, para construir uma peça de malabarismo e ritmo que convoca identidade, pertença e memória. “Há aqui uma dimensão política subtil, mas muito presente: a ideia de que o circo pode também ser um lugar de discurso, de resistência, de afirmação identitária”, nota a direção artística.

Já em “Melic”, da companhia catalã IF Circus, o gesto ancestral do tricô ganha dimensão simbólica num cenário feito de partilha geracional e escuta afetiva. A peça é antecedida por uma oficina de tricô com mulheres da comunidade local, que contribuem para a construção do cenário performativo. “O espetáculo não começa em palco, começa muito antes, no gesto coletivo, na transmissão de saberes, no encontro entre corpos e memórias”, refere a equipa curatorial.

Entre as estreias, destaque ainda para “Masacrade” (França), uma tragicomédia acrobática sobre a morte e o sentido da vida, e “El Dorado”, da companhia Nicanor Elia, onde os malabares são feitos com corpos, e o espetáculo se aproxima da dança. Também “Homenaje”, da artista catalã Silvia Capell, introduz o mastro chinês num registo dramatúrgico que desafia os limites da fisicalidade e da emoção.

Circular entre gerações

Outra das grandes apostas desta edição é a ligação intergeracional. Para além de “Knitting Memories”, o festival promove oficinas para diferentes faixas etárias e níveis de experiência, em articulação com artistas convidados. Desde o workshop com a “La Bande à Tyrex” até à oficina “El Dorado: o corpo em experiência”, dirigida pelos intérpretes da Companhia Nicanor Elia, o público é convidado a experimentar, sentir e refletir a partir do corpo.

“Acreditamos na formação artística como um espaço de acesso e não de exclusão”, afirma a organização. “Queremos que os corpos de todas as idades, géneros e capacidades possam participar neste movimento de criação partilhada.”

Também o “Pitching” de projetos artísticos regressa, juntando artistas e programadores nacionais e internacionais. É uma oportunidade para dar visibilidade a novas criações e fomentar redes de circulação europeia. “O Vaudeville não é só um festival, é um campo de ensaio para novas formas de estar no mundo — artísticas, sociais e políticas”, resume a direção artística.

Para mais informações sobre o programa consulte o site do Teatro da Didascália: https://teatrodadidascalia.com.