O espaço monumental e o interior barroco do Mosteiro de Tibães, em Braga, farão parte do palco do maior encontro de ilustração em Portugal, o festival Braga em Risco, desta vez com a sua 9.ª edição inserida na programação da Braga 25 – Capital Portuguesa da Cultura e com o tema central “Natureza”. E, nem de propósito, desta vez coincide com a entrada da primavera, realizando-se de 15 a 28 de março – costumava ser em novembro.
Pedro Seromenho, diretor do Festival de Ilustração Braga em Risco, explica, em entrevista, como tudo se conjugou para esta ser a edição com a maior presença internacional de sempre e também como a alteração da data do encontro trouxe uma feliz epifania: a Natureza como tema. “Depois de alterarmos as datas para a primavera, pensando no Mosteiro de Tibães como espaço monumental, a escolha do tema foi imediata. Além de uma missão pedagógica e inclusiva, que envolve escolas e instituições de ensino especial, era importante que o Braga em Risco mostrasse preocupação ecológica. Este encontro é uma manifestação cultural e, por isso, o tema ‘Natureza’ tornou-se natural”, afirmou Pedro Seromenho.

Pedro Seromenho a acompanhar visitantes numa edição anterior do Braga em Risco
A internacionalização do festival
O diretor do Braga em Risco, que é ilustrador, editor e escritor de literatura infantojuvenil, não esconde a satisfação com o facto de esta 9.ª edição, inserida no programa Braga 25 – Capital Portuguesa da Cultura, ser a que conta com a participação de maior número de ilustradores de outros países. “Nunca tivemos tantos ilustradores internacionais numa edição do Braga em Risco e o sinal que queremos passar é o de uma incontornável internacionalização do evento. Assim, queremos que o encontro edifique uma ponte entre Braga – Capital do Risco e Bolonha, onde acontece a mais importante Feira do Livro Infantojuvenil do mundo”, destaca.
O cartaz de criadores internacionais é realmente impressionante: “Temos dois ilustradores peruanos, Richolly Rosazza e Issa Watanabe, vencedora do Prémio da Feira de Bolonha 2024, a cubana Marla Linares, o lituano A. Bran, a russa Nastya Varlamova, as argentinas Nadia Romero Marchesini e Ana Bellande, a venezuelana Susana Suniaga, a espanhola Marina Gibert e o brasileiro Bruno Almeida, responsável pela identidade gráfica da Feira do Livro de Bolonha 2025, entre outros talentos da ilustração e do álbum ilustrado.”
Pedro Seromenho assegura que o festival de ilustração já fez nome fora de portas. “De momento, quando viajo pela Europa ou Américas, já me abordam e contactam por força do Braga em Risco. Acho que isso se prende com o leque diversificado de ilustradores que já passaram nas oito edições do encontro.” E recorda como o Braga em Risco recebeu nomes de todo o mundo. “Aqui já tivemos ilustradores sul-americanos como o André Neves, a Valeria Docampo ou o Roger Mello, vencedor do Prémio Christian Andersen, que é o prémio Nobel da literatura infantojuvenil. Tivemos vários professores das melhores escolas de ilustração de Itália e da Europa, como a Fundação Zavrel, em Sarmede, trazendo Marco Somà, Gabriel Pacheco, Ana Forlati ou Joanna Concejo. Em suma, é perfeitamente normal que no Brasil, Argentina, México, Espanha, Itália ou França se fale de Braga e deste Risco que acontece em Braga, Portugal. Ainda assim, acho que a nossa maior afinidade é com Itália. É um país onde pensam e amam a ilustração e o álbum ilustrado.”
Cartaz internacional do Risco
O Braga em Risco internacionalizou-se. Este ano conta com dois ilustradores peruanos, Richolly Rosazza e Issa Watanabe,vencedora do Prémio da Feira de Bolonha 2024, a cubana Marla Linares, o lituano A. Bran, a russa Nastya Varlamova, as argentinas Nadia Romero Marchesini e Ana Bellande, a venezuelana Susana Suniaga, a espanhola Marina Gibert e o brasileiro Bruno Almeida, responsável pela identidade gráfica da Feira do Livro de Bolonha 2025, entre outros talentos da ilustração e do álbum ilustrado.A participação das escolas
Por causa da vertente pedagógica do festival de ilustração, a participação ativa das escolas é uma componente fundamental, como refere Pedro Seromenho. “Acho que todas participaram. O número de oficinas nunca satisfaz plenamente. Já andou perto da centena, mas em Braga há muitos agrupamentos e escolas. Ainda assim, creio que já marcámos e transformámos esses alunos. Ao longo de dez anos, com a interrupção óbvia da pandemia, levámos mais de uma centena de artistas até às salas dos alunos bracarenses. É um privilégio sem precedentes! Há crianças que já estiveram com dois ou três autores de livros e de trabalhos internacionalmente prestigiados. O Braga em Risco quer deixar essa marca. Como alguém que semeia para colher uma cidade mais culta, artística e sensível. Este ano, ao todo, teremos quase oitenta oficinas.”
Muito mais do que um festival de ilustração é também um encontro de escritores e ilustradores da literatura infantojuvenil, de tertúlias e workshops. “O Braga em Risco nasceu de um sonho partilhado com várias pessoas. A ideia nasceu de Lídia Dias, na altura vereadora da Educação e da Cultura de Braga, e, depois, a Sílvia Faria, na época chefe de divisão da Cultura de Braga, sugeriu o meu nome para curador do encontro. O Braga em Risco nasceu pequeno e humilde, na forma de uma coletiva chamada Braga 22×22, em que 22 ilustradores partilhavam a sua visão visitante sobre os mais diversos aspetos que encontravam na cidade de Braga, nomeadamente um património material e secular, natural, ou mesmo a tradição oral com os dizeres, entre outros temas. Depois, cada participante contribuía para o programa com novidades, tais como livros a lançar, oficinas a desenvolver ou residências a experimentar. Num determinado sentido, o Braga em Risco também tem sido um laboratório de ideias e de experimentação artística.”
Um laboratório que é cada vez mais global, como atesta a participação eclética desta 9.ª edição.
Da economia ao sonho da literatura infantojuvenil
Pedro Seromenho, 49 anos, já nasceu com mundo dentro, em Harare, Zimbabué. Com dois anos foi para Tavira, no Algarve, e mais tarde fixou-se em Braga, onde reside. Agarrou os números e licenciou-se em Economia, mas não perdeu de vista o verdadeiro sonho: o imaginário das histórias e das imagens que as acompanhavam. “Na realidade, sempre gostei de ler, escrever e desenhar. Na minha juventude andei perdido, indeciso e acabei por rumar para uma área que nada tinha que ver com a minha forma de ver e sentir o mundo. Aos 30 anos lancei a minha primeira obra infantojuvenil e foi assim que me realinhei com o meu destino”, conta. “Desde então, nunca mais parei de criar obras, escrevendo, ilustrando e contando histórias. Atualmente, conto com 34 títulos publicados e 20 anos de sessões em escolas portuguesas de todo o mundo. A minha vida serve para criar: uma história, um poema, uma ilustração, uma peça de teatro ou um festival. Em junho próximo, andarei a visitar escolas portuguesas em França, Suíça, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo, onde poderei partilhar essas histórias.”.